quarta-feira, 10 de outubro de 2007

D. João IV recebeu petição para desviar leito do rio Uíma


Em terras de Santa Maria da Feira, num vale banhado pelo rio Uíma (um dos muitos afluentes do Douro e onde há algum tempo apareceram lontras) ficam situadas as termas das Caldas de S. Jorge. Segundo dados históricos, o rei D. João IV chegou a receber uma petição destinada a efectuar o desvio das águas do Uíma para facilitar a construção do futuro balneário termal.É um espaço aprazível, convidativo ao descanso e lazer. A maioria dos aquistas chegam do Porto e Aveiro, mas quem lá vai só precisa de estar atento. Após entrar no centro da cidade, basta seguir a sinalética a caminho da estância. Ultrapassado o trânsito citadino, o termalista irá percorrer uma avenida com plátanos, bancos de jardim e verde à volta. Ao fundo, fica situado um edifício de fachada típica da arquitectura do século passado, cujo balneário termal dispõe de "águas milagrosas" capazes de ajudar à cura de algumas doenças músculo-esqueléticas e reumáticas, osteoporose, reumatismos inflamatórios, artrites, nevralgias, tendinites e sequelas pós-traumáticas. As águas hipotermais captadas a 23 graus são hipomineralizadas, com forte reacção alcalina. Outros dados técnicos "possuem elevada percentagem de silício e lítio, bicarbonadas, cloradas, sulfuro-hidratadas e sódicas". Para além dos tratamentos das patologias atrás mencionadas, as Termas de S. Jorge encetaram, há alguns anos, um plano de modernização e oferecem outro tipo de serviços vocacionados para bem-estar físico e psicológico. A saúde a pouca distância das grandes cidades.

Manuel Vitorino

3 comentários:

Anónimo disse...

Deveras interessante. Apenas uma ressalva: a referência à "cidade" é, obviamente, uma alusão a Santa Maria da Feira. Parece-me que para se chegar da "cidade" às Termas de Caldas de S. Jorge é necessário algo mais do que simplesmente "ultrapassado o trânsito citadino, o termalista irá percorrer uma avenida com plátanos, bancos de jardim e verde à volta".
Para além dessas pistas de orientação algo confusas, parece-me um texto interessantíssimo.
Era realmente do interesse geral e particularmente importante para o património cultural-histórico da freguesia que se fizesse um apanhado histórico dos acontecimentos narrados aqui e de outros acontecimentos marcantes na vila. Não conheço - e corrijam-me, por favor, caso esteja enganado - qualquer estudo desse âmbito feito acerca da nossa vila.
Seria aliás interessante promover-se a organização em livro de alguns artigos de carácter histórico-cultural-turístico, referente ao património desta terra banhada pelo Uíma e pelas águas termais.
Havendo uma entidade que patrocine a iniciativa (edição), não faltariam certamente indivíduos capazes de alinhar alguns artigos do género...
Fica aberto o fórum.

Anónimo disse...

Pinto da Silva corrige:

Efectivamente a história referida ocoreu no reinado de D. JOÃO VI (sexto, o que fugiu para o Brasil mais tarde por causa das invasões francesas) e não D. JOÃO IV (quarto, o que matou o Miguel de Vasconcelos). É um pouco longo mas vou transcrever o texto histórico, depois de se dizer que o pároco descobridor das águas gastou muitos dos seus parcos recursos, etc., etc., diz-se:

Alguns annos mais tarde o sargento mór de S. Jorge, Bernardino Francisco Pinheiro e outros grandes do concelho da Feira, representaram ao governo de D. JOÃO VI (regente) entre outras cousas, o seguinte:
"Que na freguesia de S. Jorge se tinha descoberto uma nascente d'aguas de Caldas que, analysadas (?) e experimentadas por peritos durante um anno, se julgaram proficuas a queixas d'estomago, debilidades nervosas, rheumatismos e outras enfermidades;
Que o abbade levado de bom animo e zelo patriotico tinha já dispendido, em commum beneficio com varios medicos e alguns melhoramentos a quantia de 300$000 reis;
Que, finalmente, sendo necessario romper parte d'um monte, afim de se desviar o curso do pequeno Uima, comprar terrenos de dominio particular, edificar casas de banho e assistencia, etc. - lhes concedesse a graça de imposição d'um real em cada quartilho de vinho que se vendesse no districto da Vara do Juiz de Fora da Comarca da Feira para assim poderem fazer face a estas despesas".
Esta petição habilmente formulada, em que se significa a ideia que a impellira, foi ATTENDIDA, como se vê na Provisão de 21 de janeiro de 1805, ficando o imposto e obras sob a administração e inspecção immediata do Juiz de Fora da comarca da Feira ....."

A obra foi posta em arrematação por 13:000 cruzados (o edificio thermal) sendo que o rompimento do monte que devia servir de leito ao pequeno rio, que custou 480$000 reis. O imposto a que acima referimos rendendo annualmente 420$000 reis teve de vigorar por muito tempo.

A descrição continua por longo texto. Sem prejuizo de alguma falha procurei seguir a ortografia da época, de resto copiado de documento em meu poder.

Resumo: Foi no tempo de D. João VI e não D. João IV.

Anónimo disse...

Adorei o post do Sr. Vitorino.
Sabia que o rio foi desviado. Quando e por quem e que tempo não tenho dados concretos!
O Calvário é de 1660;
a Igreja é de 1735.
Então em que data foi feito o desvio?
D. João IV de Portugal e II de Bragança (Vila Viçosa, 19 de Março 1604 — 6 de Novembro 1656) foi o vigésimo primeiro Rei de Portugal, e o primeiro da quarta dinastia, fundador da dinastia de Bragança.Abade Inácio António da Cunha - Começou a paroquiar em Dezembro de 1794. Era natural de Santo Ildefonso, Porto. Filho de António José da Cunha e Ana Maria da Cunha. Teve aqui a mãe e um irmão Frei Januário que aqui morreram e mais 4 irmãs que aqui ficaram a residir depois da sua morte, primeiro em Caldelas e em seguida em Casaldoido, falecendo três aqui e ausentando-se a última em 1844.
O abade Cunha faleceu em 7 de Julho de 1825, com 54 anos de idade como se vê do assento de óbito. Sustentou uma demanda por causa do passal e venceu-a, como se vê de uma sentença existente no arquivo paroquial.
Em 1797 descobriu as virtudes curativas das águas das Caldas e mandou construir barracas e tanques de madeira para o seu aproveitamento. A maior parte dos serviços foi feito pelos seus curas Preda e Sousa de Arcozelo. Tinha boa caligrafia, redacção muito clara e mostrou ser padre instruído e muito relacionado. No seu tempo foi feito e dourado o retábulo do altar-mor.
Foi sepultado na capela - mor da igreja.
Então diga mas coisas, estou a gostar!