segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Anti-tabaco ou fumadores?

Não há dúvida que a lei foi engendrada por um fanático a quem mostraram estatísticas de mortes e doenças originadas pelo vício de fumar e virou toda a artilharia contra os dependentes do cigarro.

Há quantos anos ocorreu este episódio! Eu ainda fumava e já larguei a habituação tabágica (a palavra bonita para dizer vício de fumar) há mais de vinte anos.

Passou-se uma época, de várias semanas, de grande carestia de tabaco, tendo os pontos de venda ficado totalmente exauridos, ao ponto de não terem nem para vender avulso. Eu, porque tinha certas afinidades junto de distribuidores, sempre ia sacando tabaco que saciasse a minha gulodice aspiradora e mesmo para suprir a falta a algum amigo.

Estava, a dada altura, num café da terra e entrou lá o ti Aventino do Gorro, homem já muito idoso e muito debilitado e de cara a espelhar tristeza. Foi ao balcão e pediu ao atendedor que, pelas almas de quem lá tinha, lhe arranjasse um maço de cigarros. Não tenho, senhor Aventino. Dispense-me ao menos um cigarrito que já não fumo há dois dias. Não aguento mais. Era mesmo de partir a alma ouvir o desespero daquele ancião que só saiu de casa, arrastando-se com muita dificuldade, pelo cigarro.

Ouvi a conversa e, do bolso falso baixo esquerdo do casaco tirei o maço que lá tinha, com bastantes cigarros ainda. Risquei o fósforo para lhe acender o primeiro e disse-lhe que levasse o resto, que lhos oferecia eu. E poupe isso que as coisas estão ruins, acrescentei à guisa de conselho. Ainda hoje me não fogem da memória os olhos de felicidade e de gratidão daquele homem.

Assisti também ao pedido angustiado, em pleno quarto de hospital, de um doente, muito doente que morreria poucos dias depois, de um cigarro. Dá-me um cigarro, fulano! Não trouxe cigarros e você sabe que não pode fumar. Dá lá tu, oh Sicrano! Eu já sabia p'ró que vinha e deixei o tabaco no carro e você sabe que o cigarro o prejudica. Porra, deixai-me fumar um cigarro que eu não me importo de morrer a seguir. Por consenso dos presentes foi-lhe dado um cigarro que ele aspirou, deixando fugir pelos olhos o prazer e a alegria inerente. A gente como estes, que se não podem deslocar, eventualmente internados em estabelecimentos de idosos, que tratamento se dar? É legítimo roubar-lhes estes últimos e simples prazeres, onde quer que estejam?

Eu não sou fumador. Agora. Fumei desalmadamente durante muitos anos e deixei quando entendi que devia deixar, sem que ninguém mo impusesse e sem recorrer a qualquer terapia de conforto. Jurei a mim mesmo que não fumaria mais e, sinceramente, não foi tão difícil assim. O último maço esteve comigo na mesinha durante 6 anos em pose de desafio, bem ao lado do isqueiro.

Entrou em vigor a Lei 37/2007, conhecida como a Lei anti tabaco, mas que designo como LEI ANTI FUMADORES, que, ao invés de serem considerados doentes dependentes, são olhados como quase assassinos e a quem, um destes dias vão obrigar a usarem chocalho para serem evitados. Como os leprosos nos idos tempos. Para a lei, mesmo que se consuma o dobro dos cigarros, não faz mal. É preciso é que se fumem onde o parteiro/pai da lei entende e nas condições que ele quis impor.

Se me dizem, ou eu sei, que determinado espaço não oferece segurança que baste, por precaução e para minha defesa, não entro, ou decido assumir o mesmo risco dos que já lá estão. Em qualquer espaço público onde haja o risco ou certeza de haver fumo (de cigarro ou outro), se receio sentir-me mal, não entro e procuro outro local. É esse o conceito que tenho da liberdade de escolha. Se no café onde costumo ir se começar a, todos os dias, discutir em altos berros seja que tema for e o barulho me incomodar, eu deixo de lá entrar. Ou suporto os berros e até entro na discussão.

Parece não restar dúvida de que esta lei, confusa e de interpretações difusas ao ponto de, depois de aprovada pelos deputados, irem ocorrer debates, no parlamento, guiados pelos seus fautores, para explicar aos deputados (que já aprovaram o que não leram ou não entenderam) o sentido e suporte da lei. Todos a deviam ler, para verem a dimensão da confusão.

Amos Oz, o grande escritor israelita, Nobel da Literatura e grande lutador pela paz entre Israel e Palestina, num livrinho titulado "Contra o Fanatismo" (ed. Asa) diz a certo ponto: "…o fanatismo está em todo o lado. Com modos silenciosos, civilizados (às vezes, acrescento eu). Está presente à nossa volta e talvez também dentro de nós. Conheço bastantes não fumadores que o (a você) queimariam vivo por acender um cigarro ao pé deles. Conheço pacifistas, alguns dos meus colegas do Movimento da Paz Israelita, desejosos de dispararem directamente à minha cabeça por eu defender uma estratégia ligeiramente diferente da sua (deles, pacifistas) para conseguir a paz com os Palestinianos". O ex-padre Nuno Higino (não fumador) disse, há dias, em entrevista que "A esquizofrenia em relação ao tabaco é um exemplo de Estado repressivo".

Não há dúvida que a lei foi engendrada por um fanático a quem mostraram estatísticas de mortes e doenças originadas pelo vício de fumar e virou toda a artilharia contra os dependentes do cigarro. Porque se não lembrou de propor, e mereceria o meu aplauso, que fosse proibida a comercialização de tabaco em todo o país? Como é com o haxixe e outras ervas. Sabe-se que se fuma, mas é proibido o comércio.

Porque se não deixa que existam estabelecimentos (cafés, pastelarias, restaurantes, bares, dancings, salas de jogo, etc. etc. etc.) onde possa fumar e outros onde o fumo seja interdito? O cliente entra, ou não, consoante aceita ou suporta o fumo. Já agora uma pergunta ingénua. Em lugar destinado a fumadores, é permitido que um não fumador lá esteja?

♦ José Pinto da Silva

In Terras da Feira Online.

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Sr. José Silva

Tenho de discordar do seu ponto de vista, apesar de considerar que a ideia final está um pouco confusa, não concordo com as criticas que tece a esta nova lei. Em primeiro lugar não se trata de discriminar os fumadores, se assim fosse então teria sentido a tal proibição completa ao tabaco, trata-se apenas de proteger aqueles a quem o fumo do tabaco é incómodo. Disse bem quando referiu que as pessoas tem liberdade para escolher o local, e, que, se o fumo é incómodo, basta mudarem de local, mas imagine que alguem se priva de frequentar um local devido ao fumo e estando num novo local, que julga sem fumadores, alguem acende um cigarro...É uma situação bastante incómodo, principalmente quando as razões anti-fumo são fortes, como o caso de problemas de pulmões ou a existencia de bebés e crianças.
Como jovem posso afirmar que, pelo menos para os não fumadores, o ambiente dos bares onde não é permitido fumar é muito mais agradavél e para não referir que se evita o nauseabundo odor no vestuário. Quero apenas terminar dizendo que em geral as pessoas passaram a fumar concideravelmente menos após a entrada em vigor da nova lei.

Anónimo disse...

Milhões de mortes poderão ser evitadas se o consumo diário de tabaco, for reduzido, doenças cardiovasculares (75,8%) ; respiratórias (15%) ; Cancros (8,7%). Não será este um motivo suficiente para por em pratica uma lei que olha pelos seus cidadãos.
Uma lei que apenas vai na prática, impedir que se fume na grande maioria dos estabelecimentos, não em todos.
Respeito o direito de escolher fumar, existirão até zonas especificas para isso. Mas dados os conhecimentos de hoje sobre os efeitos do tabaco nos não-fumadores, acho uma decisão sensata.

Anónimo disse...

Claro que o tema é polémico e não está na moda qualquer defesa dos "direitos do fumador". Já estiva em debates com pneumologistas e continuo a defender o meu ponto de vista. Se o fumador não pode fumar nos locais onde incomoda outros, o não fumador, para defesa de si mesmo não entra em locais em que se não sinta bem. É o meu conceito de liberdade de escolha. Sei que o tabaco faz mal ao fumador (não está científicamente provado que afecte assim tanto o "passivo". Ao aspirar o fumo do cigarro, as particulas nocivas, a quase totalidade, ficam no corpo do fumador, pelo que o fumo que sai é quase inócuo. Será como um fumo de lareira. Temos visto casos de pessoas que se sentem muito afectadas com qualquer fumo que não o do tabaco. Acho que o cheiro do fumo desagrada mais do que faz mal.
Conheço as estatisticas dos malefícios do tabaco e tenho entrado e não me coíbo de entrar em campanhas contra o tabaco. Mas não tenho coragem de fazer campanhas contra os fumadores. Sou, de resto, um portador de DPOC a doença filha do tabaco. Mas, se me não sentir bem em qualquer lado
(não será o caso, porque o cheiro do fumo de cigarro não me incomoda)
evito o local. E se pensarmos que os estabelecimentos, de modo geral, se queixam da lei, somos levados a crer que os fumadores são mais frequantadores desses estabelecimentos, do que os não fumadores.
Dizem também as estatísticas que nos paises onde a lei vigora há mais tempo (a portuguesa é a mais restritiva), no início fumou-se menos, mas depois aumentou o consumo de tabaco. De resto a lei não se preocupa com o volume de consumo. Está-se literalmente marimbando para as doenças dos fumadores. Não terá sido um qualquer lóbi do mercado de exaustores quem redigiu esta coisa a que deram o nome de lei?
Ainda se haverá de falar mais disso.

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

Em relação ao senhor José Pinto da Silva:

- Post original: Patético.
- Comentário no post: Duplamente patético.

"Ao aspirar o fumo do cigarro, as particulas nocivas, a quase totalidade, ficam no corpo do fumador, pelo que o fumo que sai é quase inócuo. Será como um fumo de lareira."

O fumo que sai do organismo não é inócuo, porque este não consegue filtrar todas as partículas nocivas do tabaco (como a nicotina). Antes de fazer avaliações deste género, consulte o Google.

E em relação ao fumo de lareira, sabe que no interior do País a taxa de cancro do Cólon é elevada devido ao fumo dos enchidos no fumeiro?

Todo o fumo é nocivo. Aprenda.

Anónimo disse...

A sua tentativa de fazer prosa para defender uma causa não-existente parece-me de um desespero profundo.

"Lei Anti-Fumadores".

Haja paciência.

Anónimo disse...

A verdade é que não vai faltar muito quem tossir dentro de um café é posto cá fora pois pode contaminar o ambiente. Já é altura de parar com esta ditadura moderna.
O que me choca é que a proibição do alcool nas escola e nos locais de trabalho ficou esquecida. Porquê? Não é mais grave?

Anónimo disse...

Os não fumadores têm direito a um espaço sem fumo. That's all there is to it.

Anónimo disse...

Quererei responder aos comentários de 23 (um deles é bem mais pateta do que o meu texto é patético), mas
lembro, com alegria que faz hoje às 13horas e 55 m 25 anos que fumei o meu último cigarro. 24 de Fevereiro de 1983. Depois disso, nem a brincar, puz um cigarro na boca. E nunca deixei de pugnar por que as pessoas abandonem o vício de fumar.
Não preciso de consultar muito mais para estar relativamente bem informado sobre os malefícios do tabaco e não tenho nenhuma dúvida de que os "passivos",são afectados mais no não gosto do cheiro do que no mal ao seu organismo. Tenho lido muita coisa sobre o tema. Só que não estou influenciado pelo fundamentalismo que navega por cima de uma parte da sociedade. Reitero que a lei, confusa e incumprível, foi engendrada para ser contra os fumadores, bem mais do que contra o tabaco. Leiam um artigo no DN de hoje (24/02) da Dra. Maria José Nogueira Pinto.
Se o organiosmo dos fumadores não filtra a nicotina e ela sai para ir atingir os "vizinhos", não faz mal a quem fuma. Claro que é uma aberração. Poderá não filtrar a 100%. Disse num colóquio, em que participei, uma pneumologista que as substências que integram o cigarro se espalham todas quando o cigarro arde se estivar a arder no cinzeiro, ou estiver entre os dedos do fumador. Aí sim, o fumo que evolui é portador de todas as substâncias nocivas. Depois de passar pelos pulmões do fumador não será inócuo a 100% mas está liberto das substâncias maléficas. Há gente que não suporta o cheiro do fumo. Mas haverá cheiros quiçá mais desagradáveis, mesmo em cafés, e quem deles não gostar muda-se. Toda a gente tem direito a um ambiente puro. Claro e eu vou
muitas vezes à beira mar para respirar um pouco de ar iodado.
Se o problema fosse o malefício do ar pelo fumo e subatâncias nocivas, eles fechariam a maioria das ruas internas das nossas cidades. E eu sei do que falo porque sou bem afectado pelo fumo do "gasóleo". O problema é bem outro.
Mas ainda a propósito da lei, veja-se que para se comprar um maço de cigarros é preciso ter 18 anos e para conduzir um ciclo motor basta
ter 16. Com 17 anos e 364 dias não pode comprar tabaco, mas para se comprar qualquer substância letal
(o 650 forte) um miudo de 10 anos vaì à drogaria e compra. Além do veneno para escaravelho ou ratos.
Haja dó. Não falando nos alcoois e tanta coisa tão maléfica.
Se o blog autorizar, tentarei passar um texto que escrevi e que foi publicado num pequeno jornal
dedicado à doença dos fumadores: a DPOC (Doença pulmonar Obstructiva Crónica). Que todos deixem o tabaco. E que se dê a todos alguma liberdade de escolha. Inclusive aos proprietários de estabelecimentos. Desculpem a extensão.

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

Bloco de texto para iludir, e que consegue tudo menos refutar os factos dos comentários prévios.

Os efeitos do tabaco nos fumadores passivos estão bem documentados, e esses sim, são irrefutáveis. Se os fumadores querem consumir o seu vício, que o façam onde não prejudiquem os outros.

Anónimo disse...

Neste assunto sou da opinião do Sr. José p. Silva