quinta-feira, 11 de novembro de 2010

...Dívida Soberana

juros de...

...por cento

- Por cada 100 euros que Portugal pede emprestados 86 vêm do estrangeiro


A República conseguiu ontem mais 1.242 milhões de euros para financiar o seu endividamento. O preço disparou, mas a procura duplicou a oferta.
Por cada 100 euros que Portugal pediu emprestados ao longo deste ano, 86 vieram do estrangeiro. Os números foram avançados ontem por Alberto Soares, presidente do IGCP, ao Diário Económico, e mostram que os investidores estrangeiros ainda dão crédito à economia nacional. Ainda assim, ontem a procura da banca internacional ficou bem abaixo da média do ano.
"No total das emissões realizadas em 2010, 86% da dívida foi comprada por bancos estrangeiros", adiantou o presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP). Mas na emissão de ontem - a última do ano - a banca internacional esteve bem mais afastada. De acordo com Alberto Soares, a participação foi de 70%, enquanto os restantes 30% de dívida colocada ficaram em mãos nacionais.
"É muito positivo ter uma procura maior de bancos nacionais", defende o presidente do IGCP. "Se fosse investidor e visse que os bancos domésticos, os que melhor conhecem o país, não investiam, o que pensava?", reforça. Esta é, aliás, uma das razões que explica que a Itália não esteja sob tanta pressão dos mercados como Portugal - é que a maioria dos seus financiadores são italianos. Na última emissão em Itália, 76% da dívida colocada ficou dentro de portas.
A desagregação por nacionalidades não está disponível, pelo que não é possível ver se a vinda do Presidente chinês, Hu Jintao, a Portugal no fim-de-semana passado se concretizou de facto em mais financiamento à República. "A China comprar dívida portuguesa não é novidade nenhuma e deverá continuar a acontecer", garantiu Alberto Soares.
Em termos gerais, os objectivos do Estado português foram alcançados. Num ambiente desfavorável, em que os títulos de dívida pública estão a ser trocados a juros de 7% no mercado de secundário, e em que a questão sobre a necessidade de pedir ajuda ao Fundo de Estabilização Europeu e ao FMI é levantada todos os dias, a República conseguiu colocar a totalidade da dívida pretendida.

3 comentários:

Tony disse...

Antes de mais dou os meus Parabens ao autor do Post, pela sua consistencia e clareza técnica.
Contudo, e como economista, permitam-me algumas objeções:

(1) A meta virtual dos 7% não é de modo algum demasiado elavada. o valor por si só é insignificante. Há países que pagam acima dos 10%, e não estão nem de longe nem de perto, na situação de Portugal. Neste momento, mesmo que a taxa fosse de 4% iria sempre ser demasiado elevada, pois o crescimento nacional desde á uns anos para cá, tem ficado muito aquem dos valores acima mencionados. A longo prazo não é sustentável pagarmos mais que o que produzimos/crescemos. O facto do juro soberano ter aumentado flagrantemente desde o verão apenas veio demonstrar problemas estruturais que há muito existem na economia portuguesa, e aumentar o seu risco de colapso, à muito iminente de uma forma disfarçada.

(2)Atenção, que os Chineses são trabalhadores e inteligentes. E não vão andar a trabalhar para dar os frutos aos outros. Isto é, neste momento, podem ajudar-nos e salvar-nos do colapso, ou o mais provavel adia-lo mais uma vez. Pois, ficamos sempre numa posição fragil relativamente a eles. Se por exemplo, no futuro as relações diplomaticas esfriarem, e eles decidirem utilizar a divida portuguesa, para especular, talvez seja o fim de Portugal, sem tempo sequer para existirem as negociações nacionais e internacionais a que temos assistido sobre o futuro da política nacional.

(3) O FMI - O grande "mau da fita". Ainda não percebi o porquê de tanta aversão ao FMI. Talvez ignorancia minha, ou de quem faz questão de o afastar.
É certo que o FMI, apoiando um país, este fica limitado a nível de decisões políticas, sobretudo, relativas às áreas da economia e finanças. Talvez seja isto que tanto assuta os nossos Políticos, pois após a entrada do FMI, tomam-se as políticas necessárias, em que o objectivo principal é a recuperação de forma estrutural, não havendo pelo meio questões de popularidade e eleições futuras.
Quanto mais tarde, se reconhecer que é necessário ajuda externa, pior será a recuperação.

Finalizo com o seguinte: O próprio misnistro das finanças já reconheceu publicamente que se as medidas adoptadas não convencerem os mercados financeiros (tenho muitas duvidas que os convença) não sabe que mais medidas poderá tomar... Vejam quanto se endivida Portugal diáriamente e comparem com o seu crescimento diário. No final verão o preço e o agravamento diário deste, que pagamos por meia duzia de senhores, alguns dos quais é questionavel a sua formação, quererem manter a sua teimosia ou poder político para poderem ir planeando as proximas eleições. Não me ocorre nenhum outro motivo para a recusa da vinda do FMI.

Correia da Silva

Unknown disse...

Caro Correia da Silva,
registo do seu comentário duas ideias fulcrais.
1 - "A longo prazo, não é sustentável pagarmos mais do que produzimos/crescemos."
2- "...o FMI, apoiando um país, este fica limitado a nível de decisões políticas..."
Na realidade, estas são verdadeiramente as grandes questões de fundo que tem vindo a condicionar de forma determinante a tomada de decisões dos nossos governantes, na medida em que de (1) poderá depender (2).

Estou de acordo que a economia portuguesa apresenta problemas estruturais graves. No entanto o sector financeiro é aquele que apresenta maiores vulnerabilidades, sobretudo pela ineficácia dos seus agentes reguladores. Talvez a aparente credibilidade que os mercados financeiros tanto reclamam passe mais por uma reestruturação séria e transparente do sector e menos por factores de natureza política.
Afinal de contas é de dinheiro que se trata. Esta é indiscutivelmente uma crise financeira e lamentavelmente para todos nós, os bancos continuam impunes a fazer aquilo que melhor sabem. Parasitar os cidadãos e o Estado.

Gostaria de o ver por aqui mais vezes,

Bettencourt

Anónimo disse...

Ex. Mo Sr. Bettencourt,

Do comentário acima concordo com a primeira parte, na medida em que estamos efectivamente perante uma crise financeira.
Contudo, discordo da última parte do mesmo, pois os bancos são intermediários e vítimas entre as principais vitimas – o povo, e os grandes vilões – os fundos especiais de investimentos (hedge funds).
Estes fundos são propriedade integral ou quase de individualidades como o por exemplo: George Soros, Warren Buffet, Julian Robertson, entre muitos outros…
De notar que a maioria deste tipo de fundos têm maior dimensão que a generalidade das Economias desenvolvidas (como por exemplo: Alemanha, Reúno Unido, Japão). Quando não têm, fazem parcerias temporárias uns com os outros de modo a passarem a ter (podendo deste modo fazerem frente à economia Norte Americana, Japonesa ou mesmo Chinesa).
A título de Exemplo: basta ver que em 1992 a economia mais forte do SME (Sistema Monetário Europeu), o Reino Unido, teve que abandonar a referida instituição por não conseguir defender a sua moeda, na altura a Libra Esterlina, contra os ataques especulativos do Quantum Fund, que na época tinha uma dimensão de 8,5 mil milhões de USD.

A Ásia em 1998, incluindo a China ao defender o Yuan contra o ataque especulativo que vinha sendo gradual e discretamente montado desde inicio da década, perdeu 6 mil milhões de USD. Não foi obrigada, a abandonar a defesa do yuan, porque os fundos não estavam à espera que a china tivesse tantas reservas para o fazer, o que lhes diminuiria os lucros se tivessem decidido continuar. Então abandonaram esta estratégia e dirigiram-se para a América Latina, uma vez que o custo de oportunidade da primeira escolha estava a aumentar.

Para demonstrar que os bancos são também vitimas, temos o exemplo, do Behman Brothers o quarto maior banco Norte-Americano, que em 2007 foi dos bancos com mais lucros a nível mundial, e o terceiro banco mundial com melhor notação atribuída pela Fitch. Em 2008, sem que ninguém pudesse prever, este banco é alvo de um enorme ataque especulativo e acaba por falir em 4 meses, após a ajuda da Reserva Federal não ser suficiente.
Podemos então questionar, e porque não legislam os Hedge Funds? Existem muitas explicações mas basicamente, porque são fundos mundiais, logo seria necessária uma legislação uniforme a nível mundial – algo impossível ou quase, porque nem sempre é possível distinguir capitais especulativos de investimentos relativamente a transferências de capitais entre países e finalmente porque existem formas indirectas de especular, que são em tudo idênticas a Investimento Directo Estrangeiro, é o caso das special purpose vehicle.

Uma boa medida, contra os capitais especulativos, seria os países apenas comprarem dívida uns dos outros, estando este negócio vedado aos outros agentes, sobretudo os grandes fundos de Investimento que a compram e mais tarde sobre a mesma especulam.
Contudo esta medida tem tanto de eficaz como de difícil aplicação.
Uma outra medida seria limitar a livre circulação de capitais a nível mundial. Mas isso implicaria repensar todo o sistema financeiro actual que levou décadas a ser construído, e a ser feito nesta altura de grande debilidade financeira poderia resultar numa crise semelhante à de 1929.
Relativamente a este assunto, aconselho a leitura do livro: “O Regresso da Economia da Depressão e a Crise Actual”, do autor: Paul Krugman – Prémio Nobel da Economia 2008.

Sem mais de momento,

Melhores Cumprimentos,

Correia da Silva