segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Lógica do Canil


Foto : ...abandonado, vadio e errante,



- Uma das muitas valências prestadas pelo canil Municipal da Feira, tem a ver com a
…“captura, recolha, transporte e alojamento de animais abandonados, errantes ou vadios”.
Isto é o que diz no site da Câmara e eu, acredito.

Imaginem a dificuldade que os funcionários camarários devem ter em identificar no terreno o estado “afectivo”, de cada um destes animais … errantes, tendo em conta a classificação regulamentar proposta.
Às vezes pergunto-me o que acontece quando estes mesmos funcionários, no exercício das suas funções se cruzam por exemplo com um frango na beira da estrada.
Como é que vão decidir se o frango é ou não vadio? Será que foi abandonado? Ou será apenas mais uma de muitas criaturas errantes à procura de um nexo de causalidade existencialista para a sua efémera vida?
E quem diz frango, diz outro “ser” qualquer, seja rastejante, bípede, ou quadrúpede.

É que embora não parecendo, assim à primeira vista, esta é uma questão assente em definições conceptuais de difícil e complexa interpretação.
O bicho é vadio porque foi abandonado, ou foi abandonado porque é vadio?
Repare-se que errante, neste contexto, deve ser entendido como um estado de espírito. Digamos que uma consequência directa do abandono por vadiagem, ou então da vadiagem por abandono.

Uma coisa é certa, meus caros. È que segundo a lógica do canil, independentemente dos motivos que possam estar por detrás da “errância”do animal, a Câmara captura-o, recolhe-o, transporta-o e aloja-o.
Num certo sentido, e permitam-me aqui a analogia, se não fosse a parte do “captura-o”, quase que poderíamos dizer, que o essencial dos fundamentos ideológicos do Republicanismo, se encontram plasmados nas valências do canil Municipal.

De facto, a concretização do Estado social, enquanto expressão natural desses mesmos fundamentos ideológicos (que se encontram de resto consignados na lei fundamental do país), impõe que as pessoas, tal como os animais, possam e devam ser recolhidas, transportadas e alojadas, sempre que, claro está, se verifique uma situação de abandono e/ou vadiagem com a consequente errância que modo geral, acaba sempre por se manifestar mais cedo ou mais tarde.

Ora, a abordagem metafórica desta questão, remete-nos para uma outra que tem suscitado alguma polémica e que se prende com a recente contratação do novo acessor para o gabinete de urbanismo da Câmara da Feira.
Num contexto de crise internacional particularmente difícil para todos nós, e em contra ciclo com as óbvias necessidades de contenção orçamental que deveriam pautar as decisões dos governantes e gestores do erário público, parece-me que esta não é nem mais nem menos do que a interpretação literal que a autarquia faz do… recolhe-os, transporta-os e aloja-os.
Dito por outras palavras e “lactus sensu”, esta contratação traduz-se na versão humanizada dos mesmos propósitos que são assumidos como desígnio pelo canil municipal.
Mas contra isso nada, ou como diria Salazar “…nunca interrompas o teu inimigo, enquanto ele estiver a errar.”

O que eu receio é que a câmara da Feira, agora em final de mandato comece a produzir demasiado…”sabão macaco”, para as nossas reais necessidades, fazendo com que a equipe de limpeza que entrar a seguir, não saiba bem o que fazer a tanto detergente de duvidosa qualidade.

Mas isto sou eu a dizer, claro.
Tenho visto por aí muita boa gente que pensa que o P.D.M, ainda há-de conseguir eleger um primeiro ministro.

Tè já

bettencourt



2 comentários:

Humor Guisande disse...

esta demais

Unknown disse...

obrigada, humor guisande.

bettencourt