quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Assembleia Municipal

foto: ...tás certinho !

1 - "Ó meu menino" – disse ela peremptória. "Ou vais à Assembleia de Freguesia nas Caldas, no dia 29, ou vais à Assembleia Municipal no dia 30. Agora escolhe".
Colocada a questão nestes democráticos termos, organizei mentalmente as minhas coisas e lá me decidi por ir assistir à Assembleia Municipal do dia 30 na Biblioteca da Feira.
Com o devido respeito pelos Caldenses, perante as opções, a escolha pareceu-me óbvia. Uma coisa é ouvir uma orquestra a interpretar música de câmara ao vivo e a cores, outra coisa é ouvir alguns acordes roufenhos dessa mesma música, interpretados por alguns músicos cinzentos, quiçá mais habilitados para o manejo da pandeireta e dos ferrinhos do que para dedilhados de harpa.
Por outro lado, é sabido que a apresentação destes Planos Anuais enfermam de uma mesma característica que os tornam particularmente interessantes.Um mesmo denominador comum.
São invariavelmente prometedores e consequentemente risonhos. Não quero com isto dizer que risonho aponte neste contexto para um futuro melhor, socialmente mais justo e financeiramente equilibrado. Não. Risonho no sentido em que faz rir.
Só para terem uma pequena ideia, veja-se por exemplo as verbas inscritas no plano de 2010 para o Zoo de Lourosa. Talvez não saibam mas saíram dos cofres da Câmara, que é como quem diz do bolso dos contribuintes, a módica quantia de 360.000 €. Sim, ouviram bem, 360.000 €.
- E o que é que isto tem de engraçado? Perguntam-me vocês.
Eu explico, mesmo que não perguntem. É que no mesmo período, as verbas transferidas para a Junta de freguesia de Lourosa, ficaram-se por uns modestos 150.000 €. E ninguém grasna ? pergunto eu.
Eu não imagino o que é que aquela bicharada toda come, mas se forem alimentados à base de painço e milho transgénico, convenhamos que 360.000 € é um bocadinho exagerado.
Pronto, está certo que se trata de um equipamento com uma vertente pedagógica importante e que muito dignifica o concelho e réu péu péu pardais ao ninho.
A questão meus amigos, é que visto assim de repente, a cru e sem penas, fica-se com aquela impressão de que não devem ser só os bichos a picar da gamela.
Seja como for, ainda antes do “Casuar” pôr outro ovo, voltarei a falar sobre este tema.
É que por este andar, ou se repensa o modelo de gestão, redefinindo o público alvo e acrescentando por exemplo novas e mais apelativas valências ao espaço, ou então o mais certo, é já na próxima Feira Medieval algumas barracas incluírem na ementa, churrasco de carnes brancas, ou mesmo avestruz suada com molho tártaro servida com batatas a murro e tostinhas de fogaça.
Em todo o caso, o assunto que aqui me traz, é a Assembleia Municipal e por isso vou tentar não me dispersar muito.
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2 - Cheguei cedo à Biblioteca. A assembleia estava aprazada para as 20:30 mas por qualquer lapso na elaboração do programa, onde se lia “período antes da ordem do dia”, deveria ler-se “período antes da ordem da noite” ou melhor, …”da noitinha adentro” que foi quando a assembleia realmente começou.
Permitam-me neste ponto um pequeno aparte.
Eu acho que as Assembleias Municipais, deviam ser programadas como se faz nas salas de cinema, com sessões à tarde e à noite. Os assuntos mais ligeiros ficavam para a sessão da tarde. Outros assuntos de maior melindre político ficavam para a sessão da noite e por fim reservava-se uma última sessão só para tratar de taxas, emolumentos e outras questões que tivessem a ver com o esfolar da carteira do munícipe.
Confesso que gostei do que vi e ouvi. O Telmo do PS esteve bem na interpelação que fez ao executivo, a menina Lùcia da CDU também disse algumas acertadas, aquela senhora do CDS-PP também não destoou, enfim foi um espectáculo de se lhe tirar o chapéu e só não fiquei até ao fim porque, aí por volta da 1:30 da manhã, me começou a pegar o sono. E não deve ter sido só a mim porque um dos oradores, depois de uma eloquente intervenção a dizer à plateia o que faria se fosse governo, deu um valente terno no momento em que ia a descer as escadas do púlpito, perdendo por breves momentos e não necessariamente por esta ordem, o azimute e a compostura política.
O episódio chegou mesmo a suscitar alguma tristeza numa franja do público presente que apesar do avançado da hora já se começava a rever naquele governo que infelizmente ainda antes de o ser já tinha acabado de cair.
Outro dos momentos quentes da noite, foi protagonizado por um senhor de porte atlético mal distribuído, oriundo das fileiras do BE que acusou o seu opositor político de ser racista, por alegadamente descriminar as maiorias das minorias. Convidado a retratar-se pelo ofendido, acabaria mesmo por reafirmar o que antes havia dito tendo-se gerado de imediato um clima de grande tensão que poderia mesmo ter culminado com um eventual soco na virilha por parte do queixoso quando displicentemente o agressor se dirigia para o seu lugar. Apesar de tudo prevaleceu o fair play político e ainda bem que assim foi senão o mais certo era ter de andar a mancar nas próximas manifestações conjuntas dos trabalhadores da Rhode e dos ciganos da Baralha.
Tirando este episódio, esteve tudo muito bem, tudo muito soft, muito autárquico.
Só foi pena ninguém se ter lembrado de por ali uma daquelas barracas concessionadas, a vender bifanas e cerveja nas imediações do cinzeiro que estava mesmo à entrada do recinto, até porque, tendo em conta o número de potenciais clientes, estou certo de que se tinha angariado logo ali alguma coisinha que ajudasse a engrossar as receitas extraordinárias da Câmara. Fica no entanto a sugestão para eventos futuros.
Para terminar, vou destacar o facto pouco relevante do administrador executivo da empresa Municipal Feira Viva andar cá fora no laréu e a dar à letra no exacto momento em que lá dentro se discutiam assuntos relacionados com a empresa municipal que administra. Note-se que não é uma coisa necessariamente má. Afinal de contas é ali, junto àquele cinzeiro, que por entre a névoa da fumaça tóxica se faz verdadeira política. Autárquica.

Até já

1 comentário:

Anónimo disse...

A BARRACA COM BIFANAS ERA POR TUA CONTA. NÃO É ISSO QUE QUERES GANHAR DINHEIRINHO