Avós de antigamente...
Não queria maneira nenhuma plagiar o TF e o artigo “cartas de “ Susana Paiva,
mas anseio que este suspiro de alma,
simpatia,
saudade
e gratidão perpasse pelo nosso blog!!!
"Ao estarmos no início de um novo ano e,
por sinal, de uma ‘ nova década,
apraz-me escrever-vos acerca dos “avós de antigamente”...
Utilizo-o como …expressão porque considero se trata
de uma forma de vida e de um papel ocupado na família
e não propriamente de uma época específica.
Posso dizer que tive o privilégio de conhecer
e conviver com uma “avó de antigamente” até que esta perfizesse os 88 anos.
Foram anos de alegrias e tristezas,
como todas as convivências,
mas o que pretendo reforçar foram as aprendizagens
que esta me proporcionou,
aspectos tão importantes mas que,
por vezes, ainda hoje nem me apercebo.
Esta avó de antigamente representou para mim o exemplo,
a companhia em muitos momentos
e os valores cruciais e basilares na vida!
Na expressão “avós de antigamente”
refiro-me àquele protótipo da avó de saia preta,
numa casa com uma enorme lareira,
com uma mesa enorme,
sempre pronta a receber filhos, netos e bisnetos,
sem esquecer a sua estreita relação com a Igreja.
Embora nos tempos de meninice
não fosse muito do meu agrado
quando tinha de a acompanhar nestas actividades do seu dia-a- dia,
hoje olhando para trás consigo percepcionar
a extrema importância das experiências que esta avó,
de seu nome Emília,
me proporcionou.
Sem ela não sabia: o que eram as desfolhadas,
o que era pisar as uvas do lagar da sua casa,
o que era viver numa casa onde se criavam vacas, porcos, galinhas, coelhos,
entre outros,
não sabia o que era andar pelos campos de milho
e o cheiro da terra,
não sabia o que era apanhar flores que ela cuidava,
não sabia o que era ir todos os dias à Novena em Maio...
Ou seja, não sabia o que era a vida!
A ti agradeço por me ensinares a viver,
mas na verdadeira acessão da palavra!
Queria também ressaltar a tua visão de futuro,
mesmo vivendo “longe de tudo”
chegavas onde querias
e chegavas longe,
benditas as viagens que realizaste,
benditos os projectos que tinhas sempre em mente
e que te faziam pensar mais à frente...
nunca ficaste presa às tristezas do passado
e conseguias ver sempre algo de positivo e seguir em frente!
Lembro-me que nunca estavas em casa,
os teus dias eram tão preenchidos
(na ginástica, a participar no Imaginarius,
nos passeios, a participar no projecto da realização Varina, na Igreja...),
porque cada dia significava toda a tua vida,
encontros e desencontros, com uma certeza final, de que regressarias a casa!
Sei que a tua maior alegria sempre foi ter a família unida,
adoravas ter a casa cheia
e lá deitavas uma lágrima quando vínhamos embora...
Infelizmente chegou a nossa vez de chorar por ti,
mesmo sabendo a tua idade
e os percalços da tua saúde,
digo-te que me deixaste cedo demais...
Tinhas ainda tanto para dar,
tantos projectos, tanto para me ensinar...
Todas estas aprendizagens e interacções,
infelizmente, já não fazem parte da actualidade nas relações entre avós e netos.
Os avós da actua1idade são menos disponíveis
e já não existe a transmissão de conhecimentos
e valores aos netos, até porque se perdeu a “sede de ensinar”
e a sede de aprender”.
Ta1vez por isso estaremos a passar por uma crise,
não económica, mas de valores!
Como tal, repito, fui uma privilegiada
por ter sido presenteada durante toda a minha vida
com a Avó Mila,
como era carinhosamente chamada...
Mesmo com 88 anos não passavas o dia de pantufas
sentada à lareira,
essa é a grande lição que me deixaste,
tinhas o coração cheio de amor para os outros
e a cabeça cheia de projectos!
Foi nestes quatro meses, desde o dia 7 de Setembro,
que percebi o verdadeiro significado de “parar é morrer”...
Mas de todas as aprendizagens que me proporcionaste,
a maior de todas foi: viver e lutar até ao último segundo!
Sei que o fizeste por ti
e por todos nós!
Despediste-te de mim no dia 14 de Dezembro de 2010 às 17h50,
quando te pedi que piscasses os olhos
(porque o teu corpo não permitia mais...),
mas fica a saber que ficarás sempre no meu coração
e na minha memória,
como a avó que todos os netos desejariam ter!
Até breve Vó Mila".
Da tua neta Susana.
Susana Paiva
1 comentário:
BONITO, LINDO UM TEXTO QUE ENCHE O CORAÇÃO PARABÉNS.
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