quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Avós de antigamente..


Avós de antigamente...
Não queria maneira nenhuma plagiar o TF e o artigo “cartas de “ Susana Paiva, 
mas anseio que este suspiro de alma,
simpatia,
saudade 
e gratidão perpasse pelo nosso blog!!!
"Ao estarmos no início de um novo ano e, 
por sinal, de uma ‘ nova década, 
apraz-me escrever-vos acerca dos “avós de antigamente”... 
Utilizo-o como …expressão  porque considero se trata 
de uma forma de vida e de um papel ocupado na família 
e não propriamente de uma época específica. 
Posso dizer que tive o privilégio de conhecer 
e conviver com uma “avó de antigamente” até que esta perfizesse os 88 anos. 
Foram anos de alegrias e tristezas, 
como todas as convivências, 
mas o que pretendo reforçar foram as aprendizagens 
que esta me proporcionou, 
aspectos tão importantes mas que, 
por vezes, ainda hoje nem me apercebo.
Esta avó de antigamente representou para mim o exemplo, 
a companhia em muitos momentos 
e os valores cruciais e basilares na vida! 
Na expressão “avós de antigamente” 
refiro-me àquele protótipo da avó de saia preta, 
numa casa com uma enorme lareira, 
com uma mesa enorme, 
sempre pronta a receber filhos, netos e bisnetos, 
sem esquecer a sua estreita relação com a Igreja. 
Embora nos tempos de meninice 
não fosse muito do meu agrado 
quando tinha de a acompanhar nestas actividades do seu dia-a- dia, 
hoje olhando para trás consigo percepcionar 
a extrema importância das experiências que esta avó, 
de seu nome Emília, 
me proporcionou. 
Sem ela não sabia: o que eram as desfolhadas, 
o que era pisar as uvas do lagar da sua casa, 
o que era viver numa casa onde se criavam vacas, porcos, galinhas, coelhos, 
entre outros, 
não sabia o que era andar pelos campos de milho 
e o cheiro da terra, 
não sabia o que era apanhar flores que ela cuidava, 
não sabia o que era ir todos os dias à Novena em Maio...
Ou seja, não sabia o que era a vida! 
A ti agradeço por me ensinares a viver, 
mas na verdadeira acessão da palavra! 
Queria também ressaltar a tua visão de futuro, 
mesmo vivendo “longe de tudo” 
chegavas onde querias 
e chegavas longe, 
benditas as viagens que realizaste, 
benditos os projectos que tinhas sempre em mente 
e que te faziam pensar mais à frente... 
nunca ficaste presa às tristezas do passado 
e conseguias ver sempre algo de positivo e seguir em frente! 
Lembro-me que nunca estavas em casa, 
os teus dias eram tão preenchidos 
(na ginástica, a participar no Imaginarius, 
nos passeios, a participar no projecto da realização Varina, na Igreja...), 
porque cada dia significava toda a tua vida, 
encontros e desencontros, com uma certeza final, de que regressarias a casa!
Sei que a tua maior alegria sempre foi ter a família unida, 
adoravas ter a casa cheia 
e lá deitavas uma lágrima quando vínhamos embora... 
Infelizmente chegou a nossa vez de chorar por ti, 
mesmo sabendo a tua idade 
e os percalços da tua saúde, 
digo-te que me deixaste cedo demais...
Tinhas ainda tanto para dar, 
tantos projectos, tanto para me ensinar... 
Todas estas aprendizagens e interacções, 
infelizmente, já não fazem parte da actualidade nas relações entre avós e netos. 
Os avós da actua1idade são menos disponíveis 
e já não existe a transmissão de conhecimentos 
e valores aos netos, até porque se perdeu a “sede de ensinar” 
e a sede de aprender”. 
Ta1vez por isso estaremos a passar por uma crise, 
não económica, mas de valores! 
Como tal, repito, fui uma privilegiada 
por ter sido presenteada durante toda a minha vida 
com a Avó Mila, 
como era carinhosamente chamada... 
Mesmo com 88 anos não passavas o dia de pantufas 
sentada à lareira, 
essa é a grande lição que me deixaste, 
tinhas o coração cheio de amor para os outros 
e a cabeça cheia de projectos! 
Foi nestes quatro meses, desde o dia 7 de Setembro, 
que percebi o verdadeiro significado de “parar é morrer”... 
Mas de todas as aprendizagens que me proporcionaste, 
a maior de todas foi: viver e lutar até ao último segundo! 
Sei que o fizeste por ti 
e por todos nós! 
Despediste-te de mim no dia 14 de Dezembro de 2010 às 17h50, 
quando te pedi que piscasses os olhos 
(porque o teu corpo não permitia mais...), 
mas fica a saber que ficarás sempre no meu coração 
e na minha memória, 
como a avó que todos os netos desejariam ter! 
Até breve Vó Mila". 
Da tua neta Susana.
  Susana Paiva

1 comentário:

Anónimo disse...

BONITO, LINDO UM TEXTO QUE ENCHE O CORAÇÃO PARABÉNS.