segunda-feira, 7 de maio de 2007

Nota Sobre as Termas da Nossa Vila


(Portugal Antigo e Moderno - 1874)

Caldas de S. Jorge ou Caldellas – Freguesia do Douro, comarca e concelho de Santa Maria da Feira.
A 6 quilómetros a E. da Feira, 25quilómetros a S. do Porto, 30 quilómetros a NE de Aveiro, 16 quilómetros a NO de Oliveira de Azeméis, 288 quilómetros a N. de Lisboa,
Em 1874 tinha 200 fogos.
Em 1757 tinha 112 fogos


Orago - S. Jorge.
Bispado do Porto, distrito administrativo de Aveiro.
É terra fértil.
Tem uma igreja feita no século passado.
O pároco é abade.
A sua residência é das melhores do bispado, e seus passais dos mais rendosos e extensos da comarca.
Na parede exterior da igreja do lado S. está uma pedra com uma inscrição.
A pedra é muito branda, pelo que em 1840 já me custou a ler.
Como muitos curiosos desejaram ler diz a inscrição, aqui vai:
“Pedro Gonçalves, de esta freguesia deixou por obrigação a seu filho Baltazar Fernandes e sucessores, que é mandar-se dizer nesta igreja nove missas em cada ano, que se dissessem do modo e nos tempos declarados em seu testamento e vinculou a esta capela as herdades declaradas no dito testamento e que o visitador tomasse conta disso”.

Muitos me criticarão por copiar aqui uma inscrição tão insignificante. Declaro que só o fiz para que os curiosos, que não a pudessem ler, se não persuadam que é outra coisa, visto que já está quase ilegível, e daqui a pouco desaparecerá completamente.

No adro da igreja está uma lápide com esta inscrição. S. DE GONÇALO GIL DO PORTO.

O bispo do Porto e o convento de freiras de Santa Clara (franciscanas) da mesma cidade apresentavam alternativamente o abade, que tinha de rendimento 500$00 réis.

A freguesia é situada em terreno bastante acidentado; mas é muito aprazível.
A igreja está isolada, quase no centro da freguesia, junto a ela apenas a residência do pároco.
O lugar principal da freguesia é a aldeia da Sé, que há 30 anos a esta parte tem progredido e prosperado com as caldas, está quase uma vila, tendo bonitas casas.

Tem um bom estabelecimento de banhos, feito no reinado de D. Maria I e administrado pela Câmara.

As águas são sulfúricas e muito recomendadas e eficazes para a cura de diversas moléstias sobretudo cutâneas) e muito concorridas no Verão por gente do Porto e de outras localidades. Deve porém confessar-se que as tinas dos banhos são indecentes.
São de madeira de pinheiro e sofrivelmente imundas.
Podiam muito bem ser de pedra, pois há por aqui muita, e óptima, ou, ao menos, forradas de azulejo.

A Câmara da Feira, que há 15 ou 18 anos, tantos e tão bons melhoramentos tem feito no concelho, com reconhecida utilidade pública, deve também melhorar isto no que não só utilizam os doentes; mas os povos da freguesia e circumvizinhas, que fazem aqui bom negócio no tempo dos banhos e cujo interesse é o aumento da concorrência, o que teria certamente lugar, se este estabelecimento estivesse montado com mais asseio.
A água, que sabe cor de leite, é naturalmente tépida; mas aquecida artificialmente por um sistema muito vulgar, em caldeirões destapados, e com a maior descautela, o que faz perder a agua grande parte da sua força e virtude terapêutica.

A 20 ou 30 metros do frontispício das caldas, passava a primeira directriz do caminho de ferro do Norte, que influências de campanário arremessaram para a extremidade do reino, para os pântanos de Aveiro.
Se ele por aqui fosse, como devia ser, muito mais prosperava este estabelecimento termal.
O descobrimento de estas águas, hoje tão preconizadas e frequentadas, foi do modo seguinte:
Em um grande campo ( Lameiro da Negrinha) , pertencente ao passal do abade, que está ao fundo da aldeia da Sé, e sobre o pequeno rio Uima, se via, no centro do tal campo, borbulhar da fenda de um rochedo, uma água esbranquiçada com um prenunciado cheiro a enxofre.
Isto excitou a curiosidade do abade da freguesia, Inácio António da Cunha, que conseguiu, à sua custa, desviar o curso do rio, para a extremidade do campo; deixando a água termal separada do rio.
Mandou construir um cano para levara água mineral para o sitio acomodado (no centro do tal campo) e fez construir algumas barracas, com tanques de madeira, para tomar banho quem quisesse.
Isto teve lugar aí pelos de 1770.

Como se fossem acreditando as virtudes terapêuticas de estas suas, o governo de D. Maria I, pelos anos de 1780, tomou conta de este estabelecimento, e lhe construiu um sofrível edifício, de cantaria, com quartos para banhos de uma só pessoa.
Mas os tanques (apesar de por aqui haver abundância de óptimo granito) foram provisoriamente feitos e ainda assim se conservam.
Em 1883, a Câmara da Feira expropriou ( era o tempo do Liberalismo e do retirar dos bens à Igreja) mais uma pequena parte do campo em redor do edifício para o desenterrar pois estava uns dois metros mais baixo (o pavimento) do que o nível do campo o que o tornava imundo e incómodo.
Ficou desde então o edifício dos banhos solto e independente e com um passeio em redor, de uns 5 metros de largura.
Pela proximidade do Porto, Aveiro, Feira, Oliveira de Azeméis, Ovar, Estarreja e outras, muitas povoações menores, e pelos bons créditos que têm adquirido estas águas, sobretudo para moléstias cutâneas, podia devia fazer-se de isto um belo e confortável estabelecimento termal, que redundaria em proveito geral de aquelas povoações todas, e em especial dos habitantes da freguesia e proximidades.
Era porém preciso que se expropriasse todo o campo imediato, ou a maior parte de ele, para ali se construir casa para os banhistas, e um parque ou passeio, que seria belíssimo porque o sítio posto ser uma baixa é pitoresco.
Não foram amostras para a Exposição Universal de Paris que teve lugar em 1867.
A uns 150 metros ao S. do edifício dos banhos há uma nascente de águas ferruginosas, que se aplicam internamente, para a cura de varias moléstias, sobre tudo, para padecimentos do estômago.
Há nesta freguesia minas de ferro e de cobre, que se não exploram, por indicarem pobreza.
É nesta freguesia o lugar das Airas, ou Souto Redondo, onde teve lugar a batalha de 7 de Agosto de 1832
(Vide Souto Redondo).

( Das Memórias Paroquiais)

No tempo do Padre Inácio...


Nota do Visitador em 1805


Caldas de S. Jorge 1805


Abadia
Apresentação das freiras de Santa Clara do Porto.
93 fogos.
347 maiores.
63 menores.
Abade Inácio António da Cunha.
De 35 anos.
Bom em ciência e moral.

ATM

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