Está em consulta pública o Estudo de Impacte Ambiental do Parque de Reciclagem de Sucatas em Santa Maria da Feira. Esse estudo está disponível nos Serviços Técnicos das Câmara Municipal. Foi estabelecido um período de tempo que decorre entre 14 de Agosto e 12 de Setembro para que os cidadãos possam consultar esse documento e pronunciar-se sobre as conclusões encontradas. Este procedimento administrativo pretende envolver as populações, alertando-as e responsabilizando-as para as consequências que esse equipamento pode provocar no meio do local indicado.O presente caso, de forma estranha e irracional, foi arbitrariamente escolhido pelo Sr. presidente da Câmara em reunião da AMTSM (Associação de Municípios Terras de Santa Maria) para os terrenos da Quinta da Lage, de Pigeiros.
Como cidadão interessado em acompanhar os problemas do meu concelho e contribuir na sua melhor resolução, dirigi-me aos Serviços Técnicos. Analisei o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) de forma sumária e não técnica. Será oportuno adiantar que acompanho este dossiê sem fundamentalismos ou extremismos de espécie alguma. Apenas pretendo ajudar a encontrar o local que menos problemas provoque no Meio Ambiente, preservando-se a identidade e a História do local escolhido. Destruir, só o inevitável.
A construção de um parque de reciclagem de sucatas é vital para dar resposta à enorme quantidade de sucatas existentes no Concelho, funcionando a sua grande maioria em condições degradantes.
É um equipamento que pela sua natureza provoca implicações graves com custos elevados para a envolvente onde for instalado, desde a elevada impermeabilização dos solos devido à grande concentração de construção, à iminente poluição do ar com a evidente instalação de unidades transformadoras de metais compactados em barras metálicas (biletes) através da fusão desses metais cujo processo de transformação produz poluentes emitidos pelas chaminés dessas fundições para a atmosfera.
Consequentemente, a realidade do local escolhido para o parque vai ser negativamente alterada.Assim sendo, o processo de localização deveria merecer os maiores cuidados técnicos, procurando sempre encontrar a melhor solução.
Foi com esta preocupação que analisei os três volumes do Estudo de Impacte Ambiental elaborados para o PERM – Pigeiros (Parque Empresarial de Reciclagem de Metais de Pigeiros) disponíveis na Câmara.Após algumas horas de consulta, consciente da realidade encontrada, manifesto vivamente a mais profunda indignação pela passividade e ligeireza como foram abordados os seguintes impactes:
– a destruição de vestígios rupestres, pegadinhas de dinossauro;
– a destruição de um grande lençol freático de água;
– a negligência quanto à área de protecção das Termas de Caldas de S. Jorge;
– a falta de informação sobre os impactes da via rápida Feira- Arouca;
– a falta de justificação pela ausência de Estudos de Avaliação do Impacte Ambiental nos outros dois locais indicados pelos projectistas do Plano Director do Parque de Sucatas no Entre-Douro e Vouga.
Desenvolvendo com mais detalhe a consulta pública realizada, constatou-se que:
1 – Falta de justificação técnica quanto à escolha do local em estudo
1.1 – No volume III do EIA, na pág. 15/42, pode ler-se em alternativas de localização:"Em reunião da Associação de Municípios das Terras de Santa Maria (AMSTM), o presidente da Câmara da Câmara de Santa Maria da Feira indica que se faça um estudo de impacte ambiental só para a localização da Lage - Pigeiros, o que foi aprovado". De forma arbitrária e sem qualquer sustentação técnica, excluindo a apreciação de estudos de impacte ambiental para os outros dois locais indicados pelo PDIEDV (Plano Director Intermunicipal Entre-Douro e Vouga) elaborados pela empresa FASE-SA.
Qual a justificação para o desinteresse e abandono dos outros dois locais, tendo eles sido indicados pela equipa técnica?Por que não se fizeram os estudos de impacte ambiental para os outros dois locais?De forma arbitrária só um foi objecto de EIA, porquê?A decisão política pela opção tomada pelo Sr. presidente da Câmara da Feira e pela AMSTM, deve ser sustentada tecnicamente, o que não aconteceu.O processo de indicação do local não foi seriamente conduzido, apresenta gravíssimas irregularidades. Está viciado com insuficiências de sustentação técnica.
2 – Falta de rigor técnico na Caracterização do Estudo de Impacte AmbientalCom o devido respeito pelo trabalho dos autores do EIA, no mesmo devem ser reanalisadas as seguintes questões:
2.1 – No Estudo de Impacte Ambiental não foram abordadas as implicações da passagem da via Feira-Arouca, cujo traçado em projecto é tangente ao Parque. Ora, falta o parecer do IEP-Estradas de Portugal. Já que não foi garantido um corredor de 200 metros para cada lado do eixo da projectada via. O respeito por esta obrigação inviabiliza a localização do Parque. Não esquecendo as alterações com a existência da mesma nos resultados com os mapas de ruído apresentados além de um aumento de impermeabilização de solos no local.
2.2 – No Estudo de Impacte Ambiental não foram avaliados na qualidade do ar os efeitos da existência de uma fundição, que obviamente pretendem instalar no Parque, para reduzir os metais compactados em barras (biletes de metais) através da fusão.
2.3 – No Estudo de Impacte Ambiental não foram suficientemente salvaguardadas as consequências do equipamento na contaminação da área de protecção das Termas das Caldas de S. Jorge, dadas as particularidades morfológicas do terreno e da passagem do Rio Uíma (recolha das águas pluviais) e a da sua passagem junto das Termas. (Ver pág 213 e 214 do Volume 2).
3 – Outras preocupações apresentadas pelo Estudo de Impacte Ambiental
3.1 – A existência de vestígios rupestres - pegadinhas de dinossauro
A localização de pavilhões do parque nos Sectores E e F, sobrepondo as pegadinhas de dinossauro, é inaceitável em pleno século XXI. Os vestígios arqueológicos devem merecer o nosso maior respeito e não serem vandalizados.Na pág. 25, do Volume II, sobre o local escolhido, é citado: "Espaço físico com potencial arquelógico". O arqueólogo responsável pelo EIA, chama a atenção da aplicação de medidas especiais. Ora questiona-se, será que os vestígios das pegadinhas 1- Lage, são para enterrar no Parque de Sucatas ou serem envolvidas por pavilhões de betão e chapa?! Ou apenas objecto de palavras bonitas?!.. Não haja esse mau gosto… Não as considerem sucata, apesar dos seus milhões de anos de existência!
3.2 – A degradação da fauna e flora não devia ser uma inevitabilidade já que há outros locais onde podiam ser menores os respectivos impactes ambientais.
3.3 – Os pontos de ligação do saneamento/águas pluviais para as proximidades da fonte da Lage e para o parque de lazer merecem a maior preocupação em termos ambientais.
3.4 – No mesmo estudo, na pág. 10, Volume II, é dito: "em Janeiro de 2007, constatou-se que a água do fontanário existente estava contaminada". Efectivamente, é preocupante que o Estudo de Impacte Ambiental tenha sido realizado na única vez que a fonte teve a sua água contaminada. É muita coincidência! Tudo indica que a fonte foi de forma propositada e criminosamente contaminada para ser desvalorizado o seu interesse em termos hídricos. Todavia, a realidade é outra. A fonte tem capacidade para abastecer toda população das freguesias de Pigeiros e Caldas de S. Jorge, quer em qualidade, quer em quantidade. A avaliação dos recursos hídricos nestas circunstâncias, não são verdadeiros, são uma falácia vergonhosa.
Pelas razões expostas vai ser solicitada ao Sr. presidente da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Norte que:– Exija que a Associação de Municípios Terras de Santa Maria, responsável pelo Projecto do Parque Empresarial de Recuperação de Materiais (PERM), mande elaborar estudos de impacte ambiental para os outros dois locais indicados no Plano Director Intermunicipal Entre Douro e Vouga (PDIEDV).– Após o conhecimento desses resultados se proceda à escolha da localização, decisão que deve ser tomada tecnicamente com base na avaliação conjunta dos Estudos de Impacte Ambiental dos três locais indicados pelo PDIEDV.– Independentemente da solução final, que sejam salvaguardadas as protecções das gravuras rupestres (pegadinhas de dinossauro), a mamoela, a protecção dos recursos hídricos da Fonte da Lage, impedimento de se construir qualquer unidade siderúrgica no local, protecção das Termas das Caldas de S. Jorge tratamento das águas pluviais que são enviadas para o parque de lazer, as implicações da via Feira- Arouca, fundamental para desenvolvimento da região e que colide com a proposta de implantação do Parque.
Desenvolvimento Regional do Norte que:– Exija que a Associação de Municípios Terras de Santa Maria, responsável pelo Projecto do Parque Empresarial de Recuperação de Materiais (PERM), mande elaborar estudos de impacte ambiental para os outros dois locais indicados no Plano Director Intermunicipal Entre Douro e Vouga (PDIEDV).– Após o conhecimento desses resultados se proceda à escolha da localização, decisão que deve ser tomada tecnicamente com base na avaliação conjunta dos Estudos de Impacte Ambiental dos três locais indicados pelo PDIEDV.– Independentemente da solução final, que sejam salvaguardadas as protecções das gravuras rupestres (pegadinhas de dinossauro), a mamoela, a protecção dos recursos hídricos da Fonte da Lage, impedimento de se construir qualquer unidade siderúrgica no local, protecção das Termas das Caldas de S. Jorge tratamento das águas pluviais que são enviadas para o parque de lazer, as implicações da via Feira- Arouca, fundamental para desenvolvimento da região e que colide com a proposta de implantação do Parque.
António Cardoso
7 comentários:
Excelente artigo de opinião do António Cardoso.
De referir que o engenheiro de Pigeiros tem demonstrado uma persistência, fora do comum, na defesa da Quinta da Laje.
Com esta exemplar análise ao EIA do PERM, demonstra, claramente, que relativamente à instalação naquele local, do Parque de Reciclagem de Materiais, ainda vai (pode?) correr muita tinta.
Esperemos nós...
Castro e Silva
É evidente que o António Cardoso desenvolveu um moroso trabalho de consulta aos diversos volumes do EIA e atrever-me-ei a perguntar se um qualquer cidadão teria acesso aos mesmos documentos. A generalidade das pessoas, mesmo que acedessem, teriam muita dificuldade em compreender tecnicamente todos os postulados.
É do conhecimento geral que um processo ddeste tamanho e assim volumoso quando chega à fase de "discussão pública" está decidido e que só uma hecatombe de movimentação faria alterar o decidido.
Claro que ninguém (eu pelo menos) imaginaria que o Presidente da Câmara da Feira terá sugerido (ordenado) que se fizesse EIA só ao espaço por ele indicado. É que se se tratasse de projecto de grande interesse, por criação de emprego ou criação de riqueza para o município ou região de implantação, os outros municípios do EDV brigariam pelo projecto. Assim fizeram como o outro à pena volante. Sopraram para longe. E a Feira, como fica arrumado da Sede (quase me apetecia dizer como o SHREK, arrumado da COBA) acolheu logo o despejo. O que receberá este concelho em troca?
Quem dera que a intervenção do Cardoso possa surtir algum efeito positivo. Mas ... é a 12 deste mês que termina o prazo da tal "discussão pública". E é bem capaz de aperecer lá no processo que houve uma única voz a manifestar-se desconfortável. De resto.... de resto o concelho está massivamente com o projecto.
Reitero o que há muito tempo insinuei. Seria um rico projecto para ser posto em prática nos terrenos do Europarque, na zona da expansão.
De todo o modo uma palavra de incentivo para a persistência do António Cardoso.
José Pinto da Silva
O Zouvineiro e a sua equipa secreta, vai levar a cargo esta noite um protesto simbólico, na zona envolvente das termas.
Diga-se de passagem, que o objectivo deste protesto passa por alertar a população de todo este processo, pois é sabido que quem não tem estado a ler o blog o PERM passa despercebido ao cidadão comum.
Agora lanço um repto, porque não fotocopiar o essencial, do Eng. Cardoso, distribuir pela população, para um a um enviar o protesto a quem de direito.
Gostaria de ver os comentadores deste blog a ter uma opinião seria e construtiva sobre o assunto, que é do máximo interesse para todos sejam eles que partido ou associação for.
Apesar de gostar de uma forma geral do que escreve o Sr.Pinto da Silva, não posso estar de acordo com ele, quando diz que o “movimento” surgiu tardiamente, e é já a segunda vez que o diz ou insinua ( ao que julgo saber um “movimento” é um conjunto de pessoas que estão todas do mesmo lado, e não lutam por uma causa pessoal mas comum, coisa que ainda não vi), nunca é tarde para resolver o que está errado, e são muitos os pormenores que o Eng. Cardoso nos dá.
E não acredito que o Sr. Pinto ou qualquer entidade competente desta terra vá baixar os braços assim tão facilmente.
E porquê o Zouvineiro a promover o protesto simbólico e não as pessoas competentes e responsáveis pela terra?
Já agora gostaria de saber quais são os outros dois locais que não foram a estudo que fala o Eng. Cardoso.
Pinto da Silva:
Este movimento surgiu agora com bastantes interventores, depois do anúncio da discussão pública, um pro-forma LEGAL para validar a decisão já tomada. Ver o caso do EIA para a A32. Mas... há anos que este projecto foi elaborado e apresentado com pompa na biblioteca municipal e está incluso numa brochura que se chama, acho eu, FEIRA 2000.(eu sei que tenho esse documento, mas não o encontro no meio da parafernália de papeis). Desde essa época o Eng. Cardoso tem vindo a arengar o projecto e os autores e eu próprio escrevi 4 ou cinco vezes. O Eng. Cardoso parece que chegou mesmo a ser algo maltratado verbalmente em sede de Assembleia Municipal. Mas cá, em S. Jorge não ocorreu nada de contestação logo a partir de então. E o assunto chegou a ser levado uma vez à Assembleia de Freguesia que, como sempre, teve um assistente.
Não sugiro o baixar de braços, mas sou muito descrente quanto a movimentos que podem ser tardios. E serão, quase de certeza.
Concordo, no essencial com o que diz o Sr.Pinto da Silva, e até acrescentava mais qualquer coisa.
Acho estranho, e quando escrevo isto, não pretendo nem ao de leve beliscar, insinuar ou especular sobre, seja quem for ou o que quer que seja, como dizia, acho estranho, o Engº Cardoso não ter levantado a questão, dos interesses Imobiliários inerentes à implantação do PERM, bem sei que o artigo de opinião, visava apenas o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), mas o Sr Engº, nem se referiu levemente a esta situação, e que eu julgo ser a causa mais do que provável, para o PERM, poder vir a ser instalado no local previsto.
Apesar de tudo, reconheço que o homem, foi durante muito tempo, e de forma quase solitária, o único, a dar forma, à luta contra este projecto(PERM).
Pena seja, passado tanto tempo, que só agora se tenham despertado consciências, e numa verdadeiro frenesim, se multipliquem iniciativas colectivas e individuais contra o Projecto PERM.
Apesar do altruísmo, destas iniciativas receio, que já seja muito tarde.
Pensem sim, em formas de pressão compensatórias por tudo o que de negativo, este projecto possa trazer para as populações.
olà sr. antonio cardoso admiro muinto o seu projeto e alguns dos seus travalhos,agora que se lembra
da quinta da lage para seu projeto
serà que se vai lembrar do nosso pequeno e pobre rio (uima)que poderia ser muinto mais rico se houvesse un pouco mais de controle e cuidado?
felicidades e boa sorte.
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