terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Como vão as coisas públicas

Como deveria agir o funcionário, que é público, que testemunhou esta fuga de língua e de linguagem para a verdade? Não seria de comunicar ao Centro de Emprego e mandar suspender o processamento do subsídio?

"Minha Senhora, lamento, mas hoje não lhe podemos pôr o visto nos papeis do desemprego, porque não temos sistema", diz o funcionário administrativo da junta. Não têm o quê? Quero lá saber do sistema, ou que porra é essa! Oh mulher, o computador está avariado, pronto! Tem que cá vir amanhã, ou noutro dia. Isso é muito bonito, mas lá tenho que perder uma hora ou duas e o patrão mói-me a cabeça. Oh fulana, tartamudeia em sussurro auricular outra que é vizinha e veio junto. Atão tu que estás "desempregada" dizes que o patrão te chateia a cabeça por perderes uma hora? Descobristes a charada!

Isto, com as naturais imprecisões da citação do ouvir reproduzir conversa real, passou-se na secretaria de uma junta de freguesia das que, por protocolo, se substituem ao Instituto de Emprego na revalidação de situações de desempregados.

Como deveria agir o funcionário, que é público, que testemunhou esta fuga de língua e de linguagem para a verdade? Não seria de comunicar ao Centro de Emprego e mandar suspender o processamento do subsídio?

2 - Um desempregado (inscrito como tal), numa freguesia não muito longe de si, dizem que motorista de profissão e que integra família de bem e de boas posses e muito conceituada lá na sua terra, é notificado pelo Centro de Emprego da sua área para, a requisição da sua Junta de Freguesia, se apresentar na sede da autarquia, a partir de tantos de tal, para prestar serviço à autarquia. A tarefa a desempenhar seria, ao que se ouvia, limpar valetas ou equivalente, ou, quando muito, como era motorista, conduzir o furgão a transportar materiais.
Então um filho de família bem e de bens ia trabalhar para a junta de freguesia da sua terra a limpar caminhos? Suprema humilhação! E ainda por cima perdia o trabalho "ao negro" que fazia desde o primeiro dia em que se "desempregou"! Não podia acontecer tal a tal pessoa! Era o que mais faltava! Mas, como dar a volta? Oh pàzinho, ajudou alguém, vai ao médico da caixa e ele que te dê baixa e vais logo entregar o papel na Junta e, para melhor segurança, leva logo também ao Centro de Emprego. Não é cedo nem tarde! Talvez consiga isso mesmo por telefone. Trabalha lá um amigo que me faz a inscrição e tudo.
Consta-se que ainda anda de baixa (à data da escrita) e que andará até que se esvaeça o assunto. Depois, talvez volte a ficar desempregado.

3 - "Olhe, eu vinha aqui para ver se me punha aqui o carimbo neste papel e assina, a dizer que eu vim aqui à procura de emprego. Sabe, aqueles gajos agora, para nos darem a grande coisa que nos dão de desemprego, ainda nos obrigam a este papelaço de procurar carimbos." E qual é a tua arte? Estás sem trabalho em que área? "Sabe, eu sou serralheiro. Não que seja assim muito muito especialista, mas dou-lhe um jeito". Ora bolas! Então vens aqui a uma loja de panos e pronto-a-vestir pedir emprego? Vai a uma dessas serralharias, e há por aí várias, pequenas e grandes, que te põem o carimbo, ou, quem sabe, até te arranjam trabalho. "O quê?! Pois é isso que eu não quero. Quero levar o subsídio até ao limite. Ponha lá o carimbo que os tipos nem olham para isso." Eu às tantas ponho-te aí o carimbo por esta vez. Mas não volte cá, que não alinho nisso.
Mas… parece que foi válido. E lá continua o serralheiro no desemprego, porque a loja de panos de um só posto de trabalho (a dona) não tinha trabalho para ele.

4 - "Bom dia. Por acaso não esteve por aqui o "morcego", aquele fulano alto, que mora acolá em cima na rua Paralela, naquela casa amarelada"? Ainda cá não esteve hoje, mas olhe que não tardará. Acolá vem ele, espingardou um do lado.
Ainda mal entrado, logo interpelado. "Olha lá, não queres ir fazer um meio-dia a ajudar na montagem de uma estrutura. Coisa leve? É como de costume e ainda papas o almoço e umas cervejas para empurrar a sequeira. Onde é o trabalho? "Ali em cima, à saída da freguesia, perto da casa do Gingão." Ena pá! Aqui perto, nem pensar, não alinho nisso. Sabes que estou de subsídio e pode haver por aí quem dê por ela e chibe. Agradeço qualquer biscate que apareça, mas só se for assim um bocado longe. Fora de freguesia. Sabes como é!
Isto acontece a toda a hora. E não lhes acontece nada.


♦ José Pinto da Silva
In terras da Feira Online.

11 comentários:

Anónimo disse...

esses falsos desempregados deviam ser desmascarados.
pena é que a junta não tenha coragem de fazer isso

Anónimo disse...

peço desculpa mas o texto e mt grande pra ler, mas o relogio da abertura do ilha é k manda cenario!!!!!!

eheh!!!

Anónimo disse...

É triste haver quem faça esse tipo de "jogadas", pagamos todos para esses parasitas levem a vida!

Anónimo disse...

É uma boa chamada de atenção, para um problema que nos preocupa a todos, porque todos nós sabemos de alguém que está nessas situações, inclusive o Sr. Pinto da Silva, como muito bem expressa aqui neste texto.
Preocupa-me esta situação, por varias razões.
Porque esta forma de fazer regras só porque tem de ser feitas, não serve nem os cidadãos nem o estado.
Demonstra uma grande incompetência do estado, pela falta de mecanismos para controlar estas irregularidades. Aliás o próprio estado pactua com estas irregularidades, como é o caso das juntas de freguesias que aderem ao protocolo.

Anónimo disse...

E o discurso directo, ou o indirecto, de forma correcta? Nem parece seu Sr Pinto.

Anónimo disse...

Não tive (nem tenho) e pretensão de produzir peças literárias. Ainda que, se com mais calma, talvez pudesse produzir um pouco melhor. Mas... o objectivo do texto é outro. Resposta ao das 15:03

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

Cá está um texto embrulhado!
Não bem concebido mas que daria um bom sketch televisivo ou radiofónico!
O Senhor Pinto da Silva com calma faria uma exclente peça introduzindo o discurso directo com as dicas e as rubricas!
Foi pena.
Ficou aquém das suas capacidades e engenho literário!

Anónimo disse...

Eu até não lamento. O objectivo do texto era tentar fazer passar determinada mensagem. E creio que passou. E, ao que julgo, sem erros ortográficos. Com imperfeições de forma, de colocação dos hifens, dois pontos e pontos de interrogação, mas "lível". Não me lamento. De qualquer modo, quanto eu gostaria de poder debater estas questões, quiçá tête à tête. Acabaria o anonimato...

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

O SR Pinto da Silva esqueceu de dizer que na sua familia tambem se trabalha nestas condições, talves alguma nora sua,e ao que sei nao a denunçiao.

Anónimo disse...

Se assim é, mostra pelo menos alguma independência em relação ao que penso do tema.
José Pinto da Silva

Anónimo disse...

tenho uma loja de roupa, a minha mulher precisa de pessoas para trabalhar numa empresa de importação e revenda textil. fiz um apanhado nos últimos três meses; das 46 pessoas que me pediram para carimbar o papel, perguntei a todas se queriam trabalho, só TRÊS se mostraram interessadas, as restantes nem se dignaram perguntar qual o trabalho, o salário, etc...
já agora como me posso queixar dessas pessoas???