segunda-feira, 24 de março de 2008

1º ANO DE EXISTENCIA DA ASSOCIAÇÃO "RESPIRA"...



Chegou-me às mãos o jornal nº1 da Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas.

Enquanto eu lia, o jornal O2, reparei num artigo, que me chamou à atenção, visto ter sido escrito por uma pessoa da terra, que é o Vice-presidente da Direcção, dessa mesma associação “RESPIRA”. Essa pessoa é o Sr. José Pinto da Silva.
É esse mesmo texto que aqui vou transcrever:


A FORÇA DA DECISÃO


Há semanas, bastantes semanas, uma figura pública, cara frequente nas pantalhas televisivas, em directo num programa de entretenimento e de grande audiência, anunciou urbi et orbi, que, a partir daquele mesmo dia, não voltaria a fumar. Na semana seguinte (ou seria duas semanas depois?) e no decurso do mesmo programa (trata-se de espectáculo televisivo semanal que se prolongado por muitas semanas) voltou a, em directo, ratificar a tomada da decisão e a dizer que até já se sentia melhor (por graça até disse que, olhando-se no espelho, se sentia mais bonita – quiçá favores do espelho, acrescento) e fez o desafio público a um grupo de jovens participantes/concorrentes nesse programa. Que, como ela e publicamente, perante talvez milhões de testemunhas, tomassem a decisão de abandonar o vício de fumar. A habituação tabágica.
Não imagino o que o desafio inesperado e em público provocou naquele grupo de jovens, mas o certo é que seis deles ergueram-se a assumiram que dali por diante não voltariam a pegar no cigarro. Ao acto corajoso correspondeu o envolvimento de dois médicos (ou seria um médico e um psicólogo?) que ficaram disponíveis para, enquanto permanecessem no programa, os acompanhar, os aconselhar e lhes fazerem desvanecer as angústias da perda.
Aos fumadores, aos mais pegados e aos mais moderados na dependência, a sociedade, com legislação restritiva, está confrontá-los com pau ou com a cenoura.
Com pau da dura proibição de fumar em quase todos os locais onde possam estar outras pessoas, num talvez exagero de exigências, esquecendo mesmo a legislação que o viciado no fumo é um dependente e que fica duramente amargurado se o impedem de fumar em certa altura em que sente mais o apelo. E sobretudo se, com fundamentalismos doentios, atacam, malcriadamente, o fumador como se um criminoso fosse. Que, se quer fumar, que saia! O ter de suportar todo o fundamentalismo de muitíssimos militantes anti fumo é levar a agressão do pau.
Com a cenoura que é, primeiro o indizível prazer de, olhar-se no espelho e dizer para o reflexo que fora capaz de, sem ameaças, sem suportar insultos, só por uma decisão interior, deixar um prazer que fazia mal à saúde, à sua saúde. Olhar no espelho e pensar sobretudo na sua imperdível saúde e muito menos na doença que o tabaco lhe traria a curto ou mais longo prazo. E, duas semanas depois, diante do espelho, ao fazer a barba, ele, ou ao fazer o retoque maquilhador, se ela, falarem ao reflexo e dizerem, com voz intensa e feliz, que venceram. E, ao jeito da outra, mirarem melhor e verem que até estão mais bonitos.
Morreu há meses o grande actor Paulo Autran e, pouco antes de morrer fez questão de dizer alto, tendo pedido um último cigarro, que morria por causa do tabaco. De cancro pulmonar.
Este reconhecimento na hora de partir, na boca de um ancião de 85 anos, figura de todos conhecida, pode ser tido como uma mensagem/testamento para todos, fumadores e não fumadores e poderia ser escolhida para epitáfio: Morri com e por causa do cigarro.

José Pinto da Silva

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