domingo, 30 de novembro de 2008

"Fogaça da Feira, Uma Morte Anunciada."

Este titulo até pode parecer dramático, mas sinceramente acho que estou a ser muito melodioso.
A verdade é que não basta a Confraria da Fogaça, bem como a Associação dos Produtores Artesanais de Fogaça da Feira terem boa vontade para este maravilhoso doce concelhio não morrer.
É bom que a população e entidades olhem para a Fogaça como um doce em vias de extinção, caso não haja mudanças de atitude e de vontade por parte das entidades deste concelho nomeadamente Câmara Municipal.
A Fogaça da Feira que pouco as entidades patrocinam, vai estar reduzida a uma festa anual, que é a Festa das Fogaceiras ou como na gíria se usa no norte do concelho “os vinte das fogaças”.
A realidade do caso é tão grave que as próprias entidades ainda não se interiorizaram da verdadeira dimensão deste problema.
Vamos a ver a maior festa do concelho, que neste momento é a Viagem Medieval, o Feira Viva promove os produtos oriundos de fora do concelho em detrimento dos naturais de Santa Maria da Feira.
Como não podia deixar de ser a Fogaça da Feira, que toda a sua história está ligada ao castelo, vê-se desprezada em relação ao pão-de-ló de Ovar ou de Arouca, e porquê!!!
Por uma razão muito simples, se for doces ou produtos do concelho paga somente, e eu torno a repetir somente o dobro dos produtos não oriundos do concelho.
Agora eu sei o motivo dos produtores de doces naturais de Santa Maria da Feira optarem por vender doces regionais como o Pão-de-ló de Ovar, publicitando assim o concelho vizinho e apagando da memória dos Feirenses este doce inigualável que está em vias de ser certificado de seu nome Fogaça da Feira!!!???
Agora vou lançar novamente um repto à Confraria da Fogaça, ao Agrupamento de Produtores Artesanais da Fogaça da Feira, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e Juntas de Freguesia para criarem a Rota da Fogaça. Essa consistia na demarcação das padarias históricas associadas ao agrupamento, colocando sinaléticas personalizadas indicando a localização, o nome e história das mesmas, mais devendo ser criados complementos de divulgação dessa mesma rota, nomeadamente passeios turísticos, escolares e de idosos com o intuito de ensinar e de demonstrar a forma correcta de fabrico, passando pela melhor maneira de comer e saborear este doce regional.
Esta rota teria assim também como objectivo educar, e sensibilizar a população e turistas para a história e a gastronomia secular do concelho de Santa Maria da Feira.
Caso seja criada, a Fogaça não se cingirá a apenas um único dia, mas sim a todo o ano e desta forma esclarece-se os Feirenses e os demais visitantes para as verdadeiras características deste requintado doce, havendo um conhecimento mais alargado para sempre que tenhamos de adquirir para consumo próprio ou para dádiva uma fogaça da feira, não se compre gato por lebre, evitando manchar o nome e a história que o povo tanto lotou para prestigiar e afamar este tão nosso doce regional.

Por Ângelo Cardoso
in http://www.fabruima.blogspot.com/

8 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria que o "poster" explicasse melhor onde e em que circunstâncias é que a Fogaça paga o dobro do que paga o Pão de Lá de Ovar. É nas taxas nos postos de venda na Feira Viva? Ou é algum imposto municipal especifico aplicável a doçaria? A pergunta poderá parecer despropositada, mas de facto não imagina onde haverá essa diferenciação.

José Pinto da Silva

Anónimo disse...

Grande culinária a nossa!:
A fogaça da Feira
Os caladinhos do Castelo
E os surdo-mudinhos das Caldas!

Anónimo disse...

Onde se lê "mas de facto não imagina" deve ler-se: "mas de facto não imagino". Eu é que fiquei com a dúvida.

Pinto da Silva

Anónimo disse...

Na Viagem Medieval, costumo vêr dois locais onde se fazem a fogaça ao vivo, costumo ir lá comprar quentinha, para além de outros locais onde se podem adquirir nomeadamente confeitarias de renome que se encontram localizadas nas ruas onde se instala a viagem, e que fazem um grande dsetaque à nossa boa Fogaça.

Ângelo Miguel Magalhães Cardoso disse...

Em resposta ao Sr. Pinto da Silva, devo dizer que os responsáveis pela viagem medieval, fazem desconto a todos os artesões, nomeadamente aos produtores de pão-de-ló de Ovar. O que faz espécie é que eles recusem darem esse mesmo desconto aos produtores de fogaça, alegando que se tem lucros elevados.

Quanto ao último comentário, eu subscrevo tudo o que disse, e felizmente ainda existe pessoas, que procuram divulgar e preservar a pouca mas importante cultura gastronómica que existe no concelho. Devo-lhe informar que recentemente a fogaça foi registada e patenteada, esperando que na próxima festa das fogaceiras, dedicada ao mártir S. Sebastião, a fogaça esteja já certificada a nível Europeu, fazendo parte dos poucos doces portugueses certificados.

Posso lhe informar em primeira-mão, que vai ser solicitado para a próxima festa das fogaceiras, a fiscalização por parte das autoridades para verificarem se vendedores não associadas aos Produtores de Fogaça Tradicional da Feira sejam impedidos e em ultimo caso confiscados os produtos falsificados.

Anónimo disse...

Como primeira nota, acho que a fogaça e o seu fabrico não severiam ser considarados ARTESANATO. Está este fabrico muito mais do que industrializado, não importando onde estejam implan-
tadas as bancas de venda. O mesmo para o pão de ló de Ovar ou de Margaride. São indústrias progressivas.
Quanto à certificação, assinalando o meu desconhecimento, pergunto se
fica certificado o formato, a receita (e se esta não pode ser alterada ao gosto do confeiteiro, mais um pouco de açúcar, mais um ou dois ovos por kilo, etc.) ou se, para se poder comercializar fogaça, aqui ou alhures, tem que se pertencer a uma associação qualquer. E se não se pertencer a essa associação, mesmo que execute tudo direitinho, não pode cozer e vender a fogaça? Se assim for passamos a ter uma coisa parecida com uma Ordem. Um médico só o é para poder exercer depois de se inscrever na Ordem. Virá a ser assim com os fazedores de fogaça? E se for, não se tratará de uma violência?
José Pinto da Silva

Ângelo Miguel Magalhães Cardoso disse...

Sr. José Pinto da Silva,
Quanto a ser artesanato, devo-lhe dizer que eu tenho uma opinião contrária à sua. Pois o fabrico da fogaça alem de ser uma “arte” que deve ser preservada, ao ser considerado artesanato, ficam isentos da fiscalização da ASAE, bem como das rígidas regras que as normas europeias, nomeadamente o HACCP assim o obrigam.
Vou-lhe dar um exemplo que você conhece. Na ponte da Chã existe uma das mais antigas padarias do concelho, se não a mais antiga. Para licenciar essa padaria que só trabalha uma pessoa, era obrigado a construir três casas de banho, balneários, zonas de produção, zonas de armazém, zonas de cargas e descargas, ter mais de 3 metros de altura, e muitos outros equipamentos, o que tornava impossível o seu licenciamento. Eu tratei do licenciamento dessa casa, fui ao ministério da economia, e com poucas modificações inscrevi na associação dos artesãos, e consegui o licenciamento, bastando para isso a padaria cumprir os requisitos de higiene e salubridade dos alimentos, que é sem duvida o importante nesta industria.

No que diz respeito à certificação: Fica certificado o formato a receita, os ingredientes que componham a fogaça, bem como a região que pode produzir. Para ser mais claro
1- Só pode produzir-se fogaça da feira no Concelho de Santa Maria da Feira, com a excepção dos associados que produzam ao vivo outros certames.
2- Só podem produzir os associados com cotas pagas. Para ser associado a empresa tem de pertencer ao concelho de Santa Maria Feira e pagar as cotas e jóia desde a fundação da associação, que ronda os 3.000€. Exemplo disso foi o Feira Nova, que pediu para se associar, pagando a totalidade das cotas.
3- Todas as empresas que não sejam associadas não podem usar o nome de fogaça da feira, bem como a textura e feitio típico da mesma, sobe pena de estarem a efectuar um produto contrafeito, assumindo todas as coimas, bem como agravantes nomeadamente a perda total do produto.
4- Todos os produtores são supervisionados por uma entidade credenciada para o efeito, sem aviso prévio. Em caso de anomalia esse produtor pode perder o certificado e em ultimo caso até ser expulso da associação. A entidade certificadora é o ministério da agricultura e união europeia, a entidade fiscalizadora da associação é a AGRICER.

Estas são apenas algumas regras básicas da associação. A confraria da fogaça faz parte da associação, sendo o actual presidente da associação um confrade. A fogaça da feira é só um dos doces nacionais que estão a seguir este processo, que alem de exigente, é moroso e complicado. Posso lhe dar o exemplo do queijo da serra, bem como recentemente os Pasteis de Tentúgal, que apenas tem uma pessoa a tratar do processo, fazendo apenas parte duas padarias. Eu ainda recentemente tive o prazer de estar com a engenheira responsável que teve o trabalho de me aturar durante várias horas em Santarém. Para finalizar, recentemente, pelas mão das engenheira Ana Soeiro, a maior “responsável” pela certificação dos produtos regionais, criou uma associação destas associações, em que a Câmara da Feira ainda está a decidir se vai fazer parte desta associação ou não, que no meu entender a longo prazo será inevitável.

Na parte se será violento ou não, no meu entender acho que inicialmente sim, mas também sou apenas um dos que aprovaram os estatutos, que foram sempre aprovados por unanimidade.

Anónimo disse...

Fiquei ciente de que para se produzir "Fogaça da Feira" há que pertencer à Associação que certificou um formato de fogaça (acredito que seja o formato que tem 4 "torreatos"), ceetificou a receita (x ovos em x kg de farinha, y de manteiga e z de açucar por kg. Quer isto dezer que, se eu fosse confeiteiro, poderia fabricar fogaça à minha maneira, com receita minha, só não poderia colocar lá os tais "torreatos" e teria que lhe chamar, por ex. "Fogaça Magalhães" ou Fogaça de Lobão ou Fogaça de Paços.
Quanto à arte de fazer fogaça, fico um tanto céptico, porque não veja mais arte aos fazedores de fogaça dos que aos que fazem pão de ló ou pasteis de nata. Porque, na prática, com denominação de artesanato ou não, está tudo industrializado.
Relativamente ao caso do pequeno pasteleiro sem nenhum empregado que, sendo considerado artesão não é incomodado por ASAE e quejandos, pergunto se merecerá a mesma classificação a padaria do Feira NOva, visto isso Associado. Trabalharão lá artesanalmente? Claro que não, assim como diversas padarias/confeitarias da região. Porque se amassassem à mão, tendessem à mão, etc. não se produziriam toneladas desse pão, nomeadamente na época do 20 de Janeiro.
E, claro, há muito quem conteste a qualidade da "Fogaça da Feira" comparativamente com a da fogaça que é produzida em Lobão e em Paços. Mas isso é outro critério de análise.
José Pinto da Silva