Tenho verificado nas minhas conversas quaresmais que existe a dúvida em relação á quaresma. Será permitido comer ou não comer carne?
Acusa-se a igreja com a questão de pagar a (Oblata). Isto é, pagando posso comer!
Penso que uma coisa é a abstinência ou sacrifício recomendada pela igreja, e outra coisa são os dizeres desta gente.
O que verifiquei é o texto que abaixo transcrevo:
Em Julho de 1984, a Conferência Episcopal Portuguesa, de acordo com o Código de Direito Canónico (Cân. 1253), estabeleceu as seguintes normas para o jejum e a abstinência nas Dioceses portuguesas:
Os tempos penitenciais
Na pedagogia da Igreja, há tempos em que os cristãos são especialmente convidados à prática da penitência: a Quaresma e todas as sextas-feiras do ano. A penitência é uma expressão muito significativa da união dos cristãos ao mistério da Cruz de Cristo. Por isso, a Quaresma, enquanto primeiro tempo da celebração anual da Páscoa, e a sexta-feira, enquanto dia da morte do Senhor, sugerem naturalmente a prática da penitência.
Jejum e abstinência
O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Na disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição, embora não se excluísse que se pudesse tomar alimentos ligeiros às horas das outras refeições.
Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis poderão cumprir o preceito do jejum privando-se de uma quantidade ou qualidade de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.
Tendo em conta estas dúvidas (que não minhas) estou aberto a opiniões dos borguistas.
Comer ou não comer carne?
Se pagar posso comer?
Chefe Quim!
13 comentários:
Pra mim isso de comer ou nao comer carne é relativo. Eu por exemplo como. Há muitas especies de peixe bem mais caras do que carne. Como o texto transcrito diz e bem, é tempo de penitencia e jejum. cada um, conscientemente deve pensar no que se pode privar, o que realmente lhe fará falta...
Na minha opinião este tempo deve ser de abstinência e de jejum, no entanto este gesto não é só não comer carne, mas sim privarmos das coisas que mais gostmos, e com esse dinheiro ajudarmos o proximo.
vocês têem razão, mas quando se fala em $$$$$$$$$$$$, para ajudar o próximo...
vejam os resultados dos estudos médicos oncológicos, o que é necessário, e o dinheiro que se desperdiça noutras situações...
João Petit
vocês têem razão, mas quando se fala em $$$$$$$$$$$$, para ajudar o próximo...
vejam os resultados dos estudos médicos oncológicos, o que é necessário, e o dinheiro que se desperdiça noutras situações...
João Petit
O Chefe Quim pretendeu dar una resposta a pessoas mal informadas….
Sempre foi permitido comer o que se quiser:
carne,
peixe,
vegetais, etc.
A escrita oblata que consta no texto vem a despropósito.
Pois oblata=oferta=dádiva nem tem cabimento no texto.
É empregada de um modo redutor. Minimalista e pusilânime!
Nesta terra onde abundam maçónicos
e agnósticos,
impraticantes que sabem de tudo
e de nada,
que são padres falhados
e que pensam que um padre
é uma ovelha em quem se enfia uns cornos
e pronto já padre,
onde não se vai à igreja
e celebrações
fazendo-as no tasco,
café,
e outros locais …
E portanto não pescam nada de igreja
de normas, etc..
Daí que penso ser pertinente o esclarecimento
longo que segue:
O JEJUM E A ABSTINÊNCIA
Foi Julho de 1984 a Conferência Episcopal, de acordo com o Código de Direito Canónico (can. 1253), estabelecia as seguintes normas para o jejum e a abstinência nas Dioceses portuguesas:
Os tempos penitenciais
1. Na pedagogia da Igreja, há tempos em que os cristãos são especialmente convidados à prática da penitência:
a Quaresma
e todas as sextas-feiras do ano,
A penitência é uma expressão muito significativa da união dos cristãos ao mistério da Cruz de Cristo.
Por isso, a Quaresma, enquanto primeiro tempo da celebração anual da Páscoa,
e a sexta-feira, enquanto dia da norte do Senhor, sugerem naturalmente prática da penitência.
Jejum e abstinência
2. O jejum (literalmente significa não comer mesmo nada, beber somente água!) é uma forma de penitência que consiste na privação de alimentos.
Na disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição,
embora não se excluísse que se pudesse tomar alimentos ligeiros ás horas das outras refeições.
Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar contudo os fiéis poderão cumprir o preceito do jejum
privando-se de uma quantidade
ou qualidade de alimentos
ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência
3. A abstinência, por sua vez, consiste na escolha de urna alimentação simples e pobre.
A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja
era a abstenção de carne.
Será muito aconselhável manter esta forma de abstinência, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma ( e também do Advento). Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas,
sobretudo mais requintados
e dispendiosos
ou da especial preferência de cada um.
Contudo, devido à evolução das condições sociais e do género de alimentação, aquela concretização pode não bastar para praticar a abstinência como acto penitencial.
Lembrem-se os fiéis de que o essencial do espírito de abstinência é o que dizemos acima,
ou seja, a escolha de uma alimentação simples
e pobre e a renúncia ao luxo e ao esbanjamento.
Só assim a abstinência será privação e se revestirá de carácter penitencial.
Determinações relativas ao jejum e abstinência
4. O jejum e a abstinência são obrigatórios
em Quarta-Feira de Cinzas
e em Sexta-Feira Santa.
A abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades.
Esta forma de penitência reveste-se, no entanto, de significado especial nas sextas-feiras da Quaresma.
O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos.
O preceito do jejum obriga os fiéis
que tenham feito 18 anos
até terem completado os 59.
Aos que tiverem menos de 14 anos,
deverão os pastores de almas
e os pais procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência, sugerindo-lhes outros modos de a exprimirem.
7. As presentes determinações sobre o jejum e a abstinência apenas se aplicam em condições normais de saúde,
estando os doentes,
por conseguinte, dispensados da sua observância.
Determinações relativas a outras penitências
8. Nas sextas-feiras poderão os fiéis cumprir o preceito penitencial, quer fazendo penitência como acima ficou dito,
quer escolhendo formas de penitência reconhecidas pela tradição,
tais como a oração e a esmola,
ou mesmo optar por outras formas, de escolha pessoal,
como, por exemplo, privar-se de fumar, de algum espectáculo, etc.
9. No que respeita à oração, poderão cumprir o preceito penitencial através de exercícios de oração mais prolongados e generosos, tais como:
o exercício da via-sacra,
a recitação do rosário,
a recitação de Laudes e Vésperas da Liturgia das Horas,
a participação na Santa Eucaristia,
uma leitura prolongada da Sagrada Escritura.
10. No que respeita à esmola, poderão cumprir o preceito penitencial através da partilha de bens materiais.
Essa partilha deve ser proporcional às posses de cada um
e deve significar uma verdadeira renúncia a algo do que se tem
ou a gastos dispensáveis ou supérfluos.
11. Os cristãos que escolherem como forma de cumprimento do preceito da penitência uma participação pecuniária orientarão o seu contributo penitencial para uma finalidade determinada, a indicar pelo Bispo diocesano.
12. Os cristãos depositarão o seu contributo penitencial em lugar devidamente identificado em cada igreja ou capela,
ou através da Cúria diocesana.
Na Quaresma, todavia, em vez desta modalidade ou concomitantemente com ela,
o contributo poderá ser entregue no ofertório da Missa dominical,
em dia para o efeito fixado.
As formas de penitência não se excluem mas completam-se mutuamente.
13. É aconselhável que, no cumprimento do preceito penitencial os cristãos não se limitem a uma só forma de penitência, mas antes as pratiquem todas,
pois o jejum,
a oração
e a esmola completam-se mutuamente, em ordem à caridade.
(Normas publicadas com data de 28 de Janeiro de 1985).
ATM
Informação:
O Contributo Penitencial desta Quaresma 2009
Reverte em favor
DO FUNDO DIOCESANO SOCIAL
(em combinação com a Caritas Diocesana, Vicentinos, etc)
Para auxílio de necessidades urgentes
de desempregados,
marginalizados,
crianças desamparadas,
violência doméstica
e outras!
Perante tanto interesse
deseja-se agigantada contribuição!
ATM
EVANGELHO S. MATEUS CAPÍTULO V (Vers. -23) Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
(Vers. -24) Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.
(Vers. -25) Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.
Este deverá ser o verdadeiro sacrifício que o verdadeiro cristão deverá fazer.
Sacrificar o espírito em prol da sua propria regeneração, alcançando os valores morais que Jesus não se cansou de apregoar.
Deus julga o homem pelo que ele realmente é e não pelo que ele mostra ser, através de manifestações exteriores.
Ainda não consegui ler em parte alguma dos Evangelhos onde fosse fomentado o sacrificio corporal, e a razão me leva a pensar que o que Jesus apelou foi o sacrifício na regeneração dos nossos valores morais e sentimentais.
Pensemos que após a morte física, este transforma-se e o que vai ao encontro do Criador é o nosso eu (alma)que é a verdadeira responsável por tudo o que fizemos enquanto por cá andamos.
Este ultimo comentário traduz em pleno aquilo que também penso sobre este tempo Pascal em que somos convidados a "ressuscitarmos" interiormente.
Deverá ser um tempo de nos abstermos de criarmos conflitos, a começar pelas nossas casas, tempo de reconciliação, de aproximação daqueles que até não simpatizamos tanto. É um espaço para podermos retemperar a paz em nós, e isso só se obtem quando conseguimos trabalhar para a felicidade daqueles que nos rodeiam, só na medida que faço o outro feliz sou capaz de ser feliz. É o tempo de observar os outros com o coração e não com a cabeça, de criar, unir, reconciliar pelo mesmo Amor daquele que Amou até à morte.
Para mim faz mais sentido, e é muito mais rica esta vivência de preparação para a Páscoa, porque tem que ser uma transformação e actuação vinda de dentro, do mais profundo em mim, e isso não o consigo só com estas formulas. Não somos todos iguais e respeito a forma que para mim não serve, mas que para outros poderá ser muito válido, apenas deixo aqui o meu testemunho sobre o que sinto.
Boa Páscoa para todos.
Vá lá!Estes dois últimos comentários estão excelentes, fantásticos!!! Inefáveis!!!! Só gostava que fossem das Caldas!
O último é das Caldas.
O penúltimo, não sei.
Sou também da opinião de que a quaresma (e já agora toda a vida cristã) implica muito mais do que simplismente o cumprimento de regras estabelecidas. Ou seja, o verdadeiro jejum, o verdadeiro sacrifício e a verdadeira oração são muito mais exigentes e radicais do que a simples abstinência de um determinado alimento. O convite quaresmal lançado aos cristãos é, como dizia um comentador acima, o de transformarmos as nossas relações com Deus, com aqueles que nos rodeiam e connosco mesmos... é o que, parece-me, implica a palavra conversão (a palavra em grego é metanoia e significa literalmente «mudança de pensamento, de mentalidade» ou «para além do pensamento»).
Apesar disso, os homens e as mulheres servem-se frequentemente de símbolos para sublinhar uma ou outra vivência: é isso que acontece na quaresma, que é um tempo simbólico da conversão a que somos chamados, enquanto cristãos, a viver durante toda a vida. É também o que acontece com o jejum, e sobretudo a questão da «carne»... porquê a carne e não qualquer outro alimento, sobretudo quando, como foi já observado, há tantos outros alimentos bem mais caros e mais apetitosos? A questão principal aqui, parece-me, não é tanto o preço do alimento nem sequer se ele agrada mais ou menos (claro que para, por exemplo, um vegetariano, jejuar carne não faz sentido), mas aquilo que esse alimento simboliza: tudo aquilo que, em nós, é contrário ao projecto de Deus (as nossas dificuldades de relação, os nossos desiquilíbrios,...). A carne tornou-se símbolo disso mesmo, porque na visão do mundo greco-latino (em que a Europa se desenvolveu e o cristianismo também) o corpo (carne) era entendido como a fonte dos «nossos males». Assim, a carne que comemos (ou de que nos abstemos) é símbolo do nosso próprio corpo, de tudo o que em nós não é o bem.
Claro que esta visão do corpo como fonte dos nossos males não é bíblica: Deus criou-nos como um todo: espírito, alma e corpo, e por isso é toda a nossa pessoa que é boa e que "vai ao encontro do nosso Criador" (e não só a alma, como sugeria um comentário acima). De qualquer das formas, esse símbolo ficou na nossa cultura e serve como manifestação pública desse apelo interior que os cristãos sentem à sua conversão. Que um cristão, honesta e profundamente, possa discernir que essa conversão é melhor manifestada de uma outra forma deve ser apenas o resultado de uma opção discernida na busca do que me faz mais homem/mulher à imagem de Deus.
[PV]
P.S. E, claro, optar por viver uma vida pautada pelo amor, pela esperança e pela fé é muito mais radical e mais exigente (mais difícil!) do que o simples cumprir de algumas fórmulas comunitárias. Uma coisa não exclui a outra e podem mesmo estar implicadas (porque a fé vive-se em comunidade, e a vida comunitária implica regras comuns), mas ficarmo-nos pelas fórmulas (sem essa vida de fé, esperança e amor) parece-me (pessoalmente) pouco.
No meu humilde pensamento, entendo que o ser humano composto por três naturezas, a saber:
Corpo físico de natureza material, inerente a todos os seres vivos. Espírito ou alma,(como queiram) de natureza imaterial, criado à imagem e Semelhança de Deus.
Corpo semi-material (Corpo etereo como nos diz S. Paulo).
Assim ao encontro do Criador irá a alma e seu corpo etereo, astral, semi material como lhe queiram chamar, ficando o corpo físico cá na terra, cumprindo a última missão fornecendo nutrientes aos demais seres pelo processo da decomposição.
Alma Ser Inteligente do Universo, criada Por Deus, levará para Ele somente o que grangeou em termos de valores morais espirituais, de resto tudo fica cá na terra.
Apenas um comentário ao último comentário (pedindo desculpa por este pequeno desvio do tema central do post):
Tudo o que gira em torno da forma específica como se dá a nossa salvação tem uma grande dose de especulação, a que não é totalmente alheia a teologia. De qualquer das formas, parece-me que há alguns dados da fé cristã que são importantes:
1. Deus criou-nos como um todo, «homem ou melhor os criou» como diz o Génesis. Na tradição bíblica encontramos uma definição de pessoa humana integral (e não dividida, como é da tradição grega, e que assumimos na nossa cultura). A ideia de uma divisão muito clara entre alma e corpo foi aliás bastante combatida pelos padres da Igreja, nos seus textos contra as correntes gnósticas que inundaram o cristianismo dos primeiros tempos.
2. Que o nosso corpo se decompõe, não há a menor dúvida. A questão: o que acontece ao nosso corpo? é, por isso, muito coerente. O que me parece interessante neste contexto é o que o Apóstolo Paulo diz acerca de toda a criação: que ela «aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus... na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória." (Rom 8,19-21) Parece-me que é isto que a teologia cristã propõe quando diz que nos últimos tempos toda a criação será assumida pelo criador. Para que «Deus seja tudo em todos» (como diz o mesmo S. Paulo em 1Cor 15,28).
Assim, aquilo que eu creio (parecendo-me estar em consonância com a teologia cristã), é que somos nós, pessoas que vamos ao encontro do Criador... ou, antes, é Ele que vem ao nosso encontro.
A decisão que tomamos em relação ao nosso jejum, símbolo da nossa conversão constante, é o selo do nosso empenho em fazermos que o Reino de Amor de Deus seja uma realidade aqui e agora (ainda não plenamente, mas já em semente). E isso é, de qualquer das formas, mais importante do que qualquer teoria sobre as criaturas. É o mais importante. Talvez mesmo o único importante!
[PV]
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