sexta-feira, 5 de março de 2010

NOVO ATERRO SANITÁRIO, UM MAL NECESSÁRIO?

No texto anterior, contestei veementemente a localização do novo aterro sanitário previsto para a Pigeiros/S. Jorge (o seu vértice mais próximo do edifício termal é de pouco mais de 1km, só mesmo um idiota chapado se poderia lembrar de tal localização). Neste texto, vou não só reafirmar essa contestação pelo local escolhido, como vou fazer a contextualização da sua necessidade, demonstrando que o mesmo não seria necessário se houvesse uma verdadeira política de gestão de resíduos dos municípios envolvidos. Pois, ao contrário do que nos dizem os poderes, um aterro não é um mal necessário, mas sim um mal a evitar. E é este o busílis da questão.

Durante anos, os poderes locais, em consonância com a falta de estratégia do poder central no que respeita à gestão dos resíduos urbanos, andaram entretidos a desperdiçar recursos financeiros em obras de utilidade duvidosa ou mesmo inúteis, como é o caso do parque industrial de Romariz, ou a praia fluvial de Milheirós de Poiares. Estes exemplos, entre muitos outros que poderia referir e que são de conhecimento geral, são o paradigma da política de gestão dos recursos financeiros disponíveis por parte dos poderes locais, que enterram dinheiros públicos em inutilidades para ganharem notoriedade e votos, deixando a descoberto investimentos básicos necessários para assegurar a sustentabilidade ambiental do concelho, como é o caso da falta de estratégia na gestão dos resíduos urbanos, que leva há necessidade de cada vez mais construir aterros para enterrar as crescentes quantidades de resíduos urbanos que o concelho produz, onde mais de 80% desses mesmos resíduos teriam outro destino se efectivamente os executivos fossem mais competentes e estivessem mais interessados na salvaguarda da sustentabilidade futura do que na sua notoriedade e votos, como é o caso. Ou seja, se a conjugação dos 3 Rs fosse uma realidade no nosso concelho e no concelho vizinho de Gaia, não seria necessário mais um aterro e assim estaria salvaguardada a qualidade ambiental e a sustentabilidade do concelho (1). E isto não é um conceito vazio, é seguido por diversos países europeus com enorme sucesso. Portanto, poderiam e deveriam copiar os bons exemplos que existem noutros países, não é necessário inventar nada e que se deixem de desculpas furadas.

Mais, a necessidade da construção deste novo aterro sanitário é a demonstração prática da falência das políticas ambientais dos dois municípios envolvidos, porque se não fosse por sua incompetência não haveria necessidade de uma nova lixeira, aliás, os números demonstram-no claramente: a Feira produz cerca de 50 mil toneladas de resíduos ano; Gaia produz cerca de 150 mil toneladas anos, valores estes que estabilizaram desde 2001. Ou seja, por falta de uma gestão moderna dos resíduos urbanos, por partes dos referidos municípios, a diminuição desses resíduos em aterro não aconteceu, como deveria obrigatoriamente ter acontecido, a exemplo do que se passa nos municípios verdadeiramente desenvolvidos dos países da Europa desenvolvida.

Assim, por responsabilidade dos poderes locais, que não cumpriram com as suas obrigações, será necessário mais uma lixeira, para aí enterrar resíduos que deveriam ter outro destino. Assim sendo, por uma questão de equidade e justiça, esse novo aterro só pode ser construído no concelho de Gaia. Porque, para além desse concelho albergar cerca de 3 vezes mais população e produzir 3 vezes mais lixo do que o concelho da Feira, este último já recebeu os lixos do seu concelho vizinho numa lixeira a céu aberto durante anos. Portanto, a única localização aceitável para este novo aterro será no concelho de Vila Nova de Gaia.

DIGA NÃO À NOVA LIXEIRA DAS TERMAS!

A participação de todos é fundamental para travar este atentado ao nosso património. Envie o seu protesto para o E-mail: sec@idad.ua.pt

Notas:

(1) “Em 1982, a cidade de Münster, na Alemanha, enviava para aterro cerca de 550 mil toneladas de lixo por ano. Dez anos depois, este quantitativo caía para 160 mil toneladas.

Começou-se por mobilizar a população para reduzir o volume de lixo na origem e dar preferência ao consumo de produtos reciclados e recicláveis.

Introduziu-se uma taxa sobre a recolha do lixo, variável em função da quantidade e tipo de lixo recolhido – quanto menos lixo um cidadão produz menos paga, e se o lixo for reciclável menos paga ainda. Uma boa forma de criar a noção de responsabilidade individual e mercado para os produtos reciclados.

Os incentivos à reutilização de materiais geraram em Münster respostas muito diversas: por exemplo, a formação de empresas privadas que exploram “carros de louça”, cuja finalidade é lavar e disponibilizar loiça reutilizável em festas, reuniões culturais e desportivas.

A grande redução dos lixos passou pela reciclagem. Em Münster há 10 centros onde se aceitam todos os materiais recicláveis e todos os lixos que precisam de tratamento específico. Cada um destes centros significa, por sua vez, dezenas de postos de trabalho. Em toda a Alemanha já se concretizaram, aliás, cerca de 600 mil empregos ligados à reciclagem…”

O texto em itálico é um excerto de um artigo de opinião de Luísa Schmidt, publicado no jornal Expresso no dia 27 de Agosto de 1994, e serve perfeitamente para demonstrar a diferença entre um município desenvolvido, como é o caso de Münster, onde há uma verdadeira gestão de resíduos, e a Feira e Gaia que são municípios subdesenvolvidos em matéria ambiental e, para esconder esse seu subdesenvolvimento, têm um bom departamento de propaganda para convencer os seus munícipes do contrário. Acordemos!

José Vaz e Silva
http://josevazsilva.fponto.net/

2 comentários:

PVG disse...

Não conheço o estudo produzido pela Universidade de Aveiro, mas custa-me a aceitar que um estudo sério, que tenha em conta não apenas aspectos geológicos e hidráulicos (quanto a esses, muito discutíveis, como algumas vozes, mais instruídas nessa matéria que eu, o têm já referido), mas os aspectos sociais, económicos e culturais, possa referir um local tão próximo de uma vila termal (potencial centro turístico da região em parceria com a sede do concelho) como um potencial centro de recolha dos lixos camarários. Importaria conhecer as razões do estudo, mas duvido que algum argumento seja de tal forma irredutível que convença.
Os lixos camarários têm de ter uma saída. Todos o produzimos e ninguém o quer ao pé da porta. Mas, se ele há-de ficar algures, que seja segundo condições específicas, entre as quais estas três:
1) Que o seu impacto seja diminuído no contexto ambiental onde é inserido, seja ele qual for. Os métodos de requalificação de lixos são hoje inúmeros, e esse é um investimento que vale a pena (como, aliás, nos lembra e bem o sr. Pinto da Silva);
2) Que a escolha do local obedeça a um estudo aprofundado que tenha em conta TODOS os elementos: ambientais e geográficos, mas também sociais, culturais e turísticos.
3)Que o processo de decisão seja acompanhada pela facultação à população de toda a informação necessária, passo a passo.
Em relação à vila termal de Caldas de S. Jorge, parece-me óbvio que a defesa da vila passa pela defesa das suas termas. Não que as termas sejam mais importantes que as pessoas. Mas porque as termas podem ser um potencial de desenvolvimento para os seus habitantes. Ora, apesar de, digo-o outra vez, ainda não conhecer o estudo da Universidade de Aveiro, parece-me que um centro de recolha de lixos e um centro termal a pouco mais de 1 Km de distância são elementos incompatíveis numa paisagem que se quer harmoniosa e límpida.
Esperemos que haja bom senso.

Anónimo disse...

Povo de S. Jorge.
È com escoridão que falo, estamos de luto, e de roixo. De roixo porque estámos na quaresma, de luto, porque a Camera nos vai enterrar, com a sucata, o lixo e o saniamento que ainda não fonciona.
O que é que a Camera nos tem dado?Dinheiro vai para os donos das Termas, aporcaria e a merda, para o povo de S. Jorge. como somos tratados.