quarta-feira, 5 de maio de 2010

“Já foi tempo de chorar. Agora é tocar o burro para a frente”. Olga Cardoso, 25 anos de Rohde, como tantas outras colegas, não verteu lágrimas após a maioria esmagadora dos trabalhadores ter decretado, ao princípio da tarde, o fim da fábrica luso-alemã de calçado que laborou quase 35 anos em Santa Maria da Feira.

Dos 921 trabalhadores presentes na Assembleia de Credores, 866 (86%) rejeitaram o plano de viabilização levado pela administração daquela que era a maior empregadora do sector do calçado em Portugal que terá como desfecho do processo de insolvência o encerramento e liquidação.
Domingos Leite, advogado dos investidores, quadros superiores da Rohde, tentou, em vão, convencer a Assembleia de Credores que esteve reunida no pavilhão da Lavadeira.
A proposta passava pela liquidação da actual sociedade, criação de uma nova empresa que arrancaria “no mínimo” com pelo menos 150 trabalhadores (que seriam também accionistas), número “a aumentar gradualmente”, bem como a utilização gratuíta de um pavilhão e alguma maquinaria das instalações fabris.
“Demos uma possibilidade à empresa de seguir em frente, mas foram cinco meses sem obter garantias. Passaram de uma proposta de 500 para 150 trabalhadores e querem usar a fábrica sem pagar, isso não é aceitável”, referiu Henrique Brás, 52 anos, há 20 na Rohde que o deixou, na companhia da esposa, no fundo de desemprego desde Agosto passado, quando a laboração foi suspensa.
13 milhões de euros é valor dos créditos devidos aos 984 trabalhadores que esperam agora pela alienação do património da empresa, concentrado nas instalações fabris.
Em média, cada um operário terá direito entre 10.000 a 20.000 euros. Mas existem indemnizações mais altas. Os quadros superiores (2%) reclamam 2 milhões de euros. Um trabalhador ainda se fez ouvir durante a Assembleia de Credores pedindo “bom senso” para que fossem limitados a 40.000 euros os valores reclamados, mas não teve eco.
A Câmara de Santa Maria da Feira, através do vereador Celestino Portela, garantiu ontem que “as situações sociais de mais complicadas vão ser acompanhadas”, admitindo que no presente momento “não existem alternativas de emprego” no concelho para tanta mão-de-obra.
Os “contactos” mantidos nos últimos meses com o Governo para encontrar outros investidores também “não surtiram efeito”.
O próprio ministro da Economia, Vieira da Silva, assumiu que neste caso “ não apareceu nenhum projecto credível e viável” para evitar o despedimento em massa.
A Rohde começou a laborar com 50 trabalhadores na Primavera de 1975. Na década dourada de 80 chegou a empregar 3.000 pessoas. Muitas vinham de concelhos vizinhos , em autocarros.
O encerramento da unidade criada em Pinhel, com meio milhar de pessoas, o Verão de 2007, confirmaram as graves dificuldades da casa-mãe, na Alemanha, que originaram, mais tarde, a insolvência da fábrica de Santa Maria da Feira.

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