sábado, 19 de junho de 2010

José Vaz e Silva VS José Pinto da Silva

poder_mente_humana[1]

Pico do petróleo – réplica

Caro Sr. José Pinto da Silva,

O seu texto opinativo de réplica ao artigo “O Pico o Petróleo, uma Realidade cada vez mais presente”, publicado neste blog e de minha autoria, é uma grande exercício de fé e de crença nas infinitas capacidades humanas, o que é bom, dizem os positivistas, mas eu tenho dúvidas que assim seja, até porque, a fé pode esconder um défice de informação e aí o optimismo poderá levar-nos à inacção. Como eu penso que é o caso do seu texto, apesar de saber que a fé não se discute, não poderia deixar de fazer algumas observações às suas opiniões sobre a temática energética.

1 – Convém esclarecer o seguinte: quando refiro escassez do petróleo, refiro-me a uma escala global. Ou seja, aos 85 milhões de barris diários (valor antes da crise económica global) que a humanidade consome, na industria, na agricultura, nos transportes e em tudo o que fazemos, de bom e de mau, nesta sociedade de consumo; e não a uma micro escala doméstica ou regional. Porque, não há dúvida nenhuma que é possível construir veículos que funcionam com as mais diversas fontes energéticas. E mais, é possível substituir o petróleo e todos os subprodutos que ele fornece, por matérias-primas alternativas. O problema está na escala, na quantidade e em toda a estrutura global construída e a funcionar com base no petróleo.

2- Quando V. Exa. refere que o Pico do Petróleo ou Pico de Hubbert é um conceito ultrapassado pela realidade tecnológica de hoje, devo dizer-lhe que está mal informado. O Pico de Hubbert é um modelo matemático criado pelo geofísico Americano Marion King Hubbert, que nos anos 50, previu, com êxito, o pico de produção do petróleo nos EUA para o inicio dos anos de 1970. Mais tarde, esse conceito foi adoptado por outros geólogos para a produção mundial, entre eles, Colin Campbel, um geofísico independente fundador da ASPO. E, ao contrário do que V. Exa. afirma, este modelo matemático continua actualíssimo e as novas tecnologias ao serviço da extracção petrolífera, como a perfuração horizontal, injecção de gás e água, só adia o inevitável declínio do poço petrolífero quando neste só restam 50% das reservas exploráveis. Também não é verdade que tem havido sempre mais descobertas, o pico das descobertas, ou seja, o momento em que as novas descobertas são iguais ao consumo, aconteceu nos anos de 1960, desde então para cá as novas descobertas de campos petrolíferos foram sempre decrescentes e a situação mantêm-se hoje e praticamente todos os geofísicos afirmam que assim será no futuro.

3- Quando V. Exa. refere que há muito petróleo no subsolo por explorar e refere os exemplos do Brasil e de outros locais, é preciso desmitificar esta questão de uma vez por todos, porque sendo verdade que existe muito petróleo por explorar, não é menos verdade que nunca se consumiu tanto e que as novas descobertas não conseguirão em breve colmatar o declínio dos velhos campos e a produção diária não será suficiente para responder à procura, as novas tecnologias de extracção adiam o problema da redução da oferta, mas criam outro, ao acelerarem o declínio dos poços. No que respeita às reservas do Brasil, elas serão de primordial importância para o próprio Brasil, mas infelizmente, pouco acrescentam às necessidades globais, pois representam cerca de 2% das reservas mundiais. Aliás, o campo de Tupi, o maior do Brasil com mais de 40% das reservas brasileiras, tem cerca de 8 mil milhões de barris exploráveis, este número aparentemente gigantesco representa pouco mais de 3 meses de consumo mundial. As reservas de outros países que referiu, também não nos dão grande consolo: Rússia 7%, Venezuela 7%, Angola 1,5% e Canadá com cerca de 1,5% das reservas mundiais, mais os petróleos não convencionais das areias betuminosas que poderão rondar os 5%, tudo isto, números aproximados mas que não estão longe da realidade, que é dramática e não cor-de-rosa.

4- Confesso que não percebo porque razão V. Exa. referiu o nome do economista Canadiano Jeff Rubin, para, supostamente, suportar as suas crenças em questões energéticas que refere no texto, porque, para ironia das ironias, eu acabei de ler o seu último livro “Porque É Que o Seu Mundo Vai Ficar Muito Mais Pequeno” e, francamente, Jeff Rubin ainda é mais pessimista do que eu. Portanto, eu não percebo porque razão o refere e deixe-me que lhe diga, é um tiro no pé, pois o Sr. Jeff Rubin prevê o fim da globalização e da sociedade como a conhecemos hoje devido à escassez do petróleo, convenhamos que não é o nome mais adequado para citar a alguém que, como V. Exa. acredita que nunca haverá falta de petróleo porque haverá electricidade barata e abundante que o substituirá sem qualquer problema. Enfim, são crenças...

5- É sintomático que V. Exa. cite Bjorn Lomborg como suporte às suas crenças em matéria energética, mas olhe que não é lá uma escolha muito credível, pelo contrário, Bjorn Lomborg é conhecido pelo Ambientalista Séptico depois do lançamento seu livro com o mesmo nome, por pôr em causa o pensamento ambientalista dominante. No entanto, para além de ser uma pessoa com piada e que sabe ganhar protagonismo e dinheiro, é pouco mais do que isso, no que respeita ao seu contributo para a ciência, até porque, as suas teses já foram refutadas por vários cientistas que se deram ao trabalho de lhe dar importância. Portanto, as opiniões de Bjorn Lomborg, terão tanto crédito científico como as de qualquer cidadão.

6- Quanto às energias renováveis, devo esclarecer que sou adepto incondicional das mesmas e que são a nossa reserva de segurança para o futuro, mas, é no mínimo ingénuo pensar-se que as mesmas e num curto lapso de tempo e com o actual paradigma de desenvolvimento, nos libertarão do vicio das energias fosseis e, mais concretamente, do vicio da nossa sociedade hiper-consumista pelo petróleo.

7- Termino rebatendo veementemente a sua afirmação de que os recursos renováveis não têm limites, podendo ser consumidos contínua e crescentemente. Ora, isto é uma afirmação que roça o absurdo e que ultrapassa os limites da crença benigna, basta ver o que se passa com os recursos pesqueiros e com as florestas tropicais que por excesso de exploração estão em risco e são recursos renováveis, para se perceber que tudo tem limites e nós humanos temos, para nossa própria segurança, de ser humildes e respeitadores para com as dádivas da natureza.

José Vaz e Silva

1 comentário:

Anónimo disse...

cada um colocou o seu ponto de vista, qual o correcto? tudo indica que seja o de José luis, mas, deixemos essas preocupações para os grandes lideres mundiais, um dia serão eles a responder pelos seus erros.