sábado, 26 de janeiro de 2008

Como é difícil ser-se Licenciado em Psicologia no Concelho da Feira

Neste início de 2008 e após completar um ano desde que concluí a Licenciatura em Psicologia, pela Universidade do Porto - Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, decidi fazer um balanço sobre o que é ser licenciada em Psicologia no concelho de Santa Maria da Feira. Um balanço que não é de todo positivo, mesmo com todo o esforço, persistência e procura ainda não me encontro empregada. Após a Licenciatura de 5 anos, fiz uma Pós-Graduação em "Psicologia nos Centros de Saúde" e ainda, dois cursos de Formação Contínua intitulados "Recrutamento e Selecção de Pessoal" e "Intervenção Psicológica na Oncologia".

Os nove meses de estágio curricular no Hospital de São Sebastião, realizado com toda a minha dedicação e empenho profissional e pessoal foram a minha primeira experiência de contacto, como profissional, com as instituições feirenses. Neste contexto pude constatar a dificuldade de acesso da comunidade feirense aos serviços de saúde mental, sendo o HSS quase exclusivamente a única oferta pública destes serviços.

Enquanto estudava não imaginava que o panorama da (não) empregabilidade na área da Psicologia estivesse caótico, como de facto está. Desde a conclusão da licenciatura enviei cerca de 250 candidaturas espontâneas, das quais mais de 50 para instituições do concelho de Santa Maria da Feira*; já foram mais de 600 euros nos CTT - pelo menos alguém ganha com o desemprego de outros!
Em Janeiro de 2007 surgiu uma luz ao fundo do túnel, o programa de estágios profissionais na administração pública local (PEPAL), no entanto, todos os autarcas "conhecem", pelo menos, uma psicóloga, mas eu não "conheço" nenhum autarca… Todos os concursos se revelaram ilusórios/fictícios e, por vezes, uma mera formalidade para integrar psicólogos já pertencentes à instituição!

Este testemunho, além de ser um balanço pessoal, serve também para que toda a Comunidade Feirense tenha conhecimento que os Psicólogos, de que tanto necessitam, - ouço todos os dias: "Os psicólogos são tão precisos", "A escola do meu filho não tem psicólogo", "Espero tanto tempo por uma consulta de psicologia"- existem e que estão dispostos a trabalhar, no entanto as instituições do concelho de Santa Maria da Feira devem ter outras prioridades, que não a Saúde Mental… Actualmente existe um défice no que diz respeito ao acesso da Comunidade Feirense a serviços de Psicologia e isso acontece nos grupos mais vulneráveis, as crianças e os idosos. Gostava, sinceramente, que os órgãos competentes vissem a Saúde Mental como uma prioridade na intervenção no Concelho da Feira, a vanguarda tão pretendida passa também por não descurar este aspecto.

Saliento o excelente trabalho das I.P.S.S. do concelho da Feira, integrando na sua maioria, técnicos de Saúde Mental, sendo apenas de lamentar que se tratem de "empresas familiares e/ou partidárias".

Face a este cenário, pondero a possibilidade de emigrar, uma vez que o meu Concelho, o meu Pais, não precisa de mim e das minhas competências enquanto Psicóloga. Não posso esperar mais de um país que não valoriza a Saúde Mental e os seus profissionais...

É com mágoa que concluo dizendo que na área da Saúde Mental continuamos a ser o "Portugal dos Pequenitos"…

Susana Paiva

2 comentários:

Anónimo disse...

Não é só para psicologos, é para todos os formados. Até parece que estas pessoas não reconhecem a realidade do concelho.

Anónimo disse...

De facto a Feira é o concelho do Distrito de Aveiro com maior taxa de desemprego...

Enquanto forem colocados os amigos, os filhos e os primos, os outros ficam à porta...:)